Dados do Trabalho

Título:

MAMIFEROS EM AGROECOSSISTEMAS: A AVALIAÇAO DO RISCO AMBIENTAL DEPENDE DA CARACTERIZAÇAO DOS CULTIVOS

Resumo:

Os mamíferos silvestres brasileiros estão sujeitos aos impactos de origem agrícola desde a perda e fragmentação de habitat até a exposição à agrotóxicos. Esses impactos atuam simultaneamente em níveis de comunidade, população e indivíduo a depender da escala espaço-temporal da ocorrência desses efeitos. Informações acerca da ocorrência de espécies, cultivos adjacentes e práticas do manejo agrícola são ferramentas importantes para avaliar impactos em ecossistemas modificados. Nosso objetivo foi identificar e caracterizar a ocorrência de mamíferos em agroecossistemas brasileiros. Realizamos uma revisão sistemática da literatura nas bases de dados Google scholar, Scopus e Web of Science e levantamos a frequência de ocorrência de mamíferos (número de registros), categorizamos a ocorrência espacial em in crop, off crop e na borda do habitat natural e classificamos os tipos de agroecossistemas considerados em cada estudo. Revisamos 119 estudos e relatamos 1304 registros totais, sendo 928 (71%) associados especificamente a um ou mais cultivos no agroecossistema. Identificamos 244 espécies, das quais: Didelphimorphia (n=33), Rodentia (n=57), Carnívora (27) e Cingulata (n=11). Dentre as ordens menos registradas (n<20) estão Primates, Artiodactyla, Perissodactyla, Lagomorpha, Pilosa e Chiroptera. A frequência de ocorrência foi maior no ambiente off crop com 590 registros (45.1%), assim como a riqueza de espécies (n= 198). Seguido pelo ambiente in crop com 526 registros (40.2%) e 164 espécies. No ambiente de borda obtivemos 88 registros (14.4%) referentes a 61 espécies. A dissimilaridade de composição nos três ambientes chegou a 48.2% (beta-sorensen). Pequenos mamíferos ocorreram nos ambientes off crop e in crop, onde espécies generalistas de habitat foram mais frequentes (Didelphis aurita, D. albiventris e Nectomys squamipes; Necromys lasiurus, Oligoryzomys nigripes e Gracilinanus microtarsus, respectivamente). No ambiente de borda foram registrados principalmente carnívoros: Leopardus wiedii e Herpailurus yagouaroundi, seguidos de Cerdocyon thous e Procyon cancrivorus. Em relação ao agroecossistema, plantações anuais e perenes foram mais frequentes (36%). Dos 21 cultivos levantados, os mais frequentes foram a cana-de-açúcar (325 registros - 35%), os eucaliptais (188 registros - 20.8%) a seringueira Hevea brasiliensis (73 registros - 7.9%), a soja Glycine max (62 registros - 6.7%) e os pinheiros Pinus spp. (47 registros - 5.1%). Estudos de mamíferos em cultivos importantes como arroz, algodão e café foram pouco representados ou não apareceram na revisão e necessitam de priorização. Além disso, a referência à área agrícola muitas vezes é imprecisa, descrevendo o ambiente como “crop” ou “pasture”. Os dados levantados nesta revisão nos mostram uma necessidade de concentrar esforços em um protocolo mínimo de descrição do agroecossistema, identificando o tipo de cultivo, o estágio fenológico da cultura e escala espaço-temporal do registro (in crop, off crop e borda) no momento do avistamento/captura da espécie. Essa ausência de precisão impede, por exemplo, identificar quais dessas culturas são uma possível fonte de exposição a agrotóxicos aos mamíferos silvestres. Essas informações seriam úteis ao embasamento técnico/teórico dos órgãos ambientais no que concerne a avaliação de risco ambiental, impactos de práticas de manejo na paisagem, e podem complementar a priorização baseada em bioma e ecorregião.

Financiamento:

Área

Ecologia