11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

FILOGEOGRAFIA E VARIAÇAO MORFOLOGICA EM JULIOMYS OSSITENUIS (RODENTIA: SIGMODONTINAE)

Resumo:

A Mata Atlântica é uma floresta Neotropical com alto nível de diversidade e endemismo. Vários estudos filogeográficos têm contribuído para o entendimento dos padrões e processos envolvidos na diversificação da biota. No entanto, muitos táxons ainda permanecem pobremente estudados. Este é o caso do roedor sigmodontíneo Juliomys ossitenuis, uma espécie que ocorre em florestas das regiões sudeste e sul do Brasil e que tem recebido pouca atenção quanto a estudos filogeográficos e de variabilidade fenotípica. Diante disso, o objetivo deste estudo é descrever os padrões de variação morfológica e filogeográfica de J. ossitenuis, inferindo os processos históricos responsáveis pela diversificação e endemismo da espécie na Mata Atlântica. Para isso, 69 espécimes (incluindo material tipo) foram analisados em relação a 32 caracteres externos, cranianos, dentários e pós-cranianos. A variação morfológica foi avaliada considerando as influências etária e sexual. Sequências completas e parciais do gene mitocondrial citocromo b (n = 20) foram utilizadas nas análises filogeográficas para testas as hipóteses de refúgios florestais e barreiras geomorfológicas. A amostragem utilizada foi representativa da distribuição de J. ossitenuis. Foram calculados os principais índices de diversidade genética, testes de neutralidade (D de Tajima, Fs de Fu e R2) para investigar os efeitos de eventos demográficos pretéritos e o teste de Mantel para verificar isolamento por distância. A estrutura populacional foi investigada pela rede de haplótipos e pela análise de variância molecular (AMOVA). As localizações de barreiras genéticas responsáveis pela diferenciação populacional também foram estimadas. As análises morfológicas indicaram um polimorfismo intrapopulacional (especialmente em relação a morfologia externa), apontando para a ausência de uma grande diferenciação. A influência ontogenética foi detectada apenas em relação ao desenvolvimento de crisas e suturas cranianas. As estimativas de diversidade genética mostraram altos valores de diversidade haplotípica e baixa diversidade nucleotídica. Os testes de neutralidade não exibiram valores significativos e o teste de Mantel não detectou isolamento por distância. A rede de haplótipos indicou uma estruturação incipiente em dois haplogrupos. A AMOVA apontou que a maior variação genética é encontrada entre grupos, os quais foram coincidentes com os haplogrupos recuperados na rede de haplótipos. Os resultados encontrados não suportam a hipótese dos refúgios florestais, enquanto que a hipótese de barreiras geomorfológicas explicaria a incipiente estruturação em J. ossitenuis. As quebras filogeográficas e a estimativa da localização de barreiras foram coincidentes com os limites da bacia sedimentar São Paulo. Essa região é um dos segmentos do rift Continental do Sudeste do Brasil, uma área que passou por recentes reativações de falhas tectônicas. Isso sugere que processos geomorfológicos deformaram a paisagem, aumentando as diferenças topográficas entre cadeias montanhosas e vales da região. Como tais eventos ocorreram ao longo do Quaternário e são muito recentes, ainda não foi produzida estruturação genética pronunciada na espécie. Análises de estimativa do tempo de divergência e comparações com as demais espécies do gênero são pontos que merecem ser explorados em futuros estudos.

Palavras chave: diversificação, morfologia, genética, biogeografia

Financiamento:

Capes

Área

Evolução

Autores

Carolina Pires Pires, Rayque Lanes, Marcelo Weksler, Cibele Rodrigues Bonvicino