11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

EFEITOS ANTROPICOS, BIOGEOGRAFICOS E ECOLOGICOS: O QUE DETERMINA A COMPOSIÇAO DE MAMIFEROS EM UM CENARIO CONTINENTE-ILHA?

Resumo:

Mudanças no uso e ocupação da terra geram perturbações, fragmentam os ambientes e promovem o isolamento de áreas, outrora contínuas. Esses são fatores que prejudicam a permeabilidade da matriz, afetando o efeito-resgate, levando à perda de diversidade. Áreas de Floresta Ombrófila Densa (FOD) no estado de Santa Catarina foram intensamente exploradas, processo que resultou em fragmentação e alteração de habitats, tanto no ambiente insular quanto no continental. Assim, esperamos que exista diferença na composição das assembleias de mamíferos terrestres de médio e grande porte, entre áreas isoladas (naturais ou artificiais, devido a matriz antropizada) em relação às áreas de maior permeabilidade de matriz na região de FOD do estado de Santa Catarina. Obtivemos 3.426 registros independentes diários de mamíferos com armadilhas-fotográficas, entre os anos de 2005 e 2022, distribuídas em nove áreas de FOD na Ilha de Santa Catarina (ISC) e seis áreas de FOD do continente próximo. Os agrupamentos foram obtidos por Análise de Cluster, usando o índice de Bray-Curtis para medir a dissimilaridade entre as áreas. Registramos 25 espécies, sendo a riqueza média de 9,1 (±4,6 DP). A análise de agrupamento apontou a formação de dois grupos (>0,8 de dissimilaridade) com coeficiente de correlação cofenética de 0,79. O primeiro agrupamento, onde a riqueza média foi de 6,6 (±3,5 DP), foi associado às áreas da ISC e à área continental da Reserva Particular do Patrimônio Natural Chácara Edith (RCE), contrastando com o segundo agrupamento associado às outras áreas continentais, cuja riqueza foi de 14 (±1,6). Sugere-se que a diferença do nível de isolamento das áreas foi a responsável pela divisão destes dois grupos, de forma que o primeiro agrupamento é de áreas nas quais a matriz é menos permeável, seja pelo fator insularidade (ISC) ou pela ocupação humana (RCE). Essa característica leva a menor diversidade nessas áreas, o que resulta na dominância de espécies de menor porte, como Dasyprocta azarae. Os responsáveis pela subdivisão neste grupo foram: isolamento devido a pressões antrópicas; presença de felinos em RCE continental; e proximidade entre áreas, fator que proporciona maior semelhança na composição da fauna de mamíferos. Enquanto as outras áreas continentais parecem ter se agrupado de acordo com características da paisagem, como tamanho da mancha, área aberta e antropizada, que influenciam na composição das assembleias de mamíferos, principalmente em áreas com maior riqueza de felinos silvestres. Nosso trabalho destaca que as diferenças na composição das assembleias de mamíferos em áreas de FOD no estado de Santa Catarina são influenciadas por processos antrópicos e biogeográficos, de forma que somados à ausência de efeito-resgate, evidenciam a dominância de D. azarae. Assim, sugerimos que essas pressões antrópicas levam à “Liberação de Cutias” em ambientes mais preservados e defaunados, evidenciando o efeito bottom-up e relativizando a hipótese do Mesopredador. É importante comparar as assembleias de mamíferos de áreas com diversos graus de permeabilidade de matriz e pressão antrópica, identificar se existe déficit de efeito-resgate e assim propor ações de conservação e manejo para reestabelecer a estrutura original das assembleias. Palavras-chave: Cluster, Defaunação, Dominância, Efeito-resgate, Mata Atlântica

Financiamento:

Esse trabalho foi executado através do Projeto Fauna Floripa, uma parceria entre a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (FLORAM), o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA-SC), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Programa Ecológico de Longa Duração de Santa Catarina/PELD BISC financiado pelo CNPq (Chamada CNPq/Capes/FAPs/BC-Fundo Newton/PELD nº 15/2016, Chamada CNPq/MCTI/CONFAP-FAPS/PELD no 21/2020) e Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC 2018TR0928; FAPESC 2021TR386); Financiamento da FAPESC por meio do Termo de Outorga 2017TR1706; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e é apoiado pela bolsa de mestrado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Juliano A. Bogoni é apoiado pelas bolsas de pós-doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) nº 2018-05970-1 e nº 2019-11901-5, Paula Ribeiro-Souza é apoiada pela bolsa de doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), n° 88887.519051/2020-00.

Área

Ecologia

Autores

Barbara Lima-Silva, Maurício Eduardo Graipel, Juliano A. Bogoni, Camila Rezende Ayroza, Paula Ribeiro-Souza, Talita Laura Góes, Bruna Nunes Krobel, Luana Paula Lucero-Reis, Guilherme Christakis Rodrigues, Fernando Carvalho, José Salatiel Rodrigues Pires