11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

NOVOS REGISTROS DE PLATYRRHINUS LINEATUS (CHIROPTERA, PHYLLOSTOMIDAE) NO LIMITE SUL DE SUA DISTRIBUIÇAO NO BRASIL: DEFICIENCIA AMOSTRAL OU EFEITO DAS MUDANÇAS CLIMATICAS?

Resumo:

Estudos que contribuam para o conhecimento dos limites de distribuição geográfica de espécies têm ganhado relevância devido ao interesse crescente sobre os efeitos da perda e fragmentação de habitats e das mudanças climáticas sobre a biodiversidade. As espécies de morcegos Phyllostomidae podem ser utilizadas como indicadores, já que muitas possuem ampla distribuição geográfica, são abundantes e se alimentam de plantas. Platyrrhinus lineatus é um filostomídeo frugívoro amplamente distribuído na América do Sul, sendo que seus limites sul de distribuição são o nordeste da Argentina, noroeste do Uruguai e sul do Brasil. Os primeiros registros desta espécie no Rio Grande do Sul foram obtidos em quatro diferentes localidades em 2004, no extremo noroeste do estado na fronteira com a Argentina, e em uma localidade em 2006, no extremo norte do estado na divisa com Santa Catarina. Esses dados indicavam que a espécie teria uma distribuição marginal no Rio Grande do Sul relacionada às regiões de Florestas Estacionais Deciduais da Argentina e do noroeste de Santa Catarina. O objetivo deste estudo é registrar novos pontos de ocorrência de Platyrrhinus lineatus no Rio Grande do Sul, no sul do Brasil, ampliando a distribuição geográfica da espécie e discutindo as implicações destes novos registros. Os registros foram obtidos entre os anos de 2007 e 2020 durante amostragens de morcegos com redes de neblina e monitoramento de mortalidade por colisão em rodovias. Os quatro novos pontos de ocorrência da espécie são nos seguintes municípios: 1. Cacequi (2007); 2. Alegrete (2019); 3. Capão do Leão (2019) e 4. Santa Maria (2020). O registro mais ao sul da espécie no Brasil passa a ser o do indivíduo morto por colisão com veículo (-31,7617; -52,4031), em Capão do Leão, na Planície Costeira do Rio Grande do Sul. Esses novos registros ampliam a distribuição geográfica da espécie no sentido norte-sul em 450 km no estado. Os dados compilados indicam uma tendência temporal nos registros mais recentes em direção ao sul do estado e que a espécie tenha uma rota de dispersão pelas florestas do noroeste e tenha ampliado sua área de distribuição para o sul e leste através de matas ciliares. Não há registros nas florestas do nordeste (Floresta Ombrófila Densa), apesar de existirem levantamentos de morcegos. Os novos registros e a consequente ampliação da distribuição geográfica podem ser reflexo da ausência de levantamentos regulares de morcegos com métodos adequados para a captura de filostomídeos no Pampa do Rio Grande do Sul. Além disso, a espécie parece ter baixa densidade populacional no Pampa, estar associada a habitats específicos, como matas ciliares, e realizar deslocamentos sazonais relacionados a frutificação de certas espécies vegetais chaves para filostomídeos, como as figueiras (Ficus sp.). Esse conjunto de fatores tornaria mais difícil a sua detecção. Porém, uma hipótese que não pode ser descartada é a de que a distribuição geográfica de P. lineatus esteja sendo ampliada pelos efeitos das mudanças climáticas sobre a distribuição de espécies vegetais e padrões de frutificação no extremo sul do Brasil.
Palavras-chave: Biogeografia, Pampa, Rio Grande do Sul

Financiamento:

Área

Biogeografia/Macroecologia

Autores

Marcelo M Weber, Ricardo Ribeiro Crochemore da Silva, Jonas Sponchiado, Marília Abero Sá de Barros, Ana Maria Rui