Dados do Trabalho

Título:

COMER, BRINCAR E NADAR: ESTRATEGIAS DE ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL NA REABILITAÇAO DE TRICHECHUS MANATUS LINNAEUS, 1758, NO ESTADO DO CEARA

Resumo:

O peixe-boi-marinho é um dos mamíferos aquáticos mais ameaçados de extinção no Brasil. Diversas ameaças impactam a espécie, destacando-se o encalhe de neonatos na costa semiárida do Nordeste. Um longo período de reabilitação em cativeiro, visando posterior soltura, consiste na principal estratégia para a sua conservação. Nesse contexto, animais cativos são expostos a condições ambientais restritas e previsíveis, limitando os aprendizados e comportamentos naturais. Portanto, o enriquecimento ambiental (EA) é fundamental para o bem-estar mental, físico e comportamental, colaborando com a expressão de comportamentos essenciais para adaptação à vida livre. O objetivo deste estudo foi desenvolver e aplicar técnicas de EA visando contribuir para a reabilitação e o sucesso na adaptação à vida livre de peixes-bois-marinhos, resgatados após encalhe no litoral do Ceará. Foram avaliados 13 animais, sob os cuidados da Aquasis, cujos enriquecimentos alimentares foram aplicados conforme suas fases de desenvolvimento. Considerando que o peixe-boi é exclusivamente herbívoro e alimenta-se de plantas submersas, flutuantes ou emergentes, foram inseridos tipos de oferta alimentar simulando parte da diversidade do ambiente natural. Para oito animais juvenis (>02 anos) disponibilizou-se prensas de madeira, contendo capim-elefante (Pennisetum sp.), fixadas nas bordas das piscinas, mantendo parte do capim em contato com a água. Para quatro filhotes (<02 anos) utilizou-se pallets plásticos, submersos com pesos fixados nas laterais e os vegetais inseridos nas suas aberturas. Uma barreira visual foi construída com canos de pvc e folhagem artificial, com uma abertura possibilitando a passagem das mamadeiras para aleitamento. Para um filhote menor de 01 ano, a mamadeira subaquática foi adaptada e fixada na lateral da piscina, permitindo a oferta do sucedâneo sem contato visual com o tratador. Ainda, foi produzido um quadrado de pvc revestido por mangueira flexível com abertura para prender o vegetal. Todos os enriquecimentos foram utilizados diariamente, sendo as prensas, pallets e o quadrado de pvc na oferta dos vegetais pela manhã e a barreira visual e mamadeira adaptada cinco vezes ao dia, mesma frequência da oferta do sucedâneo. Desde a primeira exposição houve interação com todos os objetos e consumo do alimento, com exceção do pallet que somente o filhote mais novo interagiu. A partir da segunda oferta todos interagiram. Os enriquecimentos desafiaram a obtenção do alimento, já que anteriormente os vegetais eram ofertados flutuando na água. As prensas geraram estímulos sensoriais e aumentaram o tempo de forrageio. Os pallets serviram como estímulo para o forrageio submerso, necessário para obtenção do principal alimento natural, o capim-agulha (Halodule wrightii). O uso da barreira física impediu o contato visual direto entre animais e tratadores e a adaptação à mamadeira subaquática fixa foi bem aceita desde a primeira utilização. Essas estratégias se mostraram importantes na redução da associação da presença humana com a alimentação, colaborando para o desenvolvimento de um comportamento menos curioso/dócil. Este trabalho reforça a necessidade do uso de técnicas de EA no processo de reabilitação, além de reforçar a importância de centros de reabilitação para espécies ameaçadas visando à manutenção da diversidade biológica.

Palavras-chave: sirênios, cativeiro, estresse, bem-estar animal.

Financiamento:

Projeto de Monitoramento de Praias Bacia Potiguar (PMP-BP), iniciativa desenvolvida para o atendimento de condicionante do licenciamento federal, conduzido pelo Ibama, das atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia do Ceará.

Área

Etologia/Bem-estar animal