11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

AREAS DE PROTEÇAO INTEGRAL NAO GARANTEM A CONSERVAÇAO DE AREAS CLIMATICAMENTE ADEQUADAS PARA FELINOS DA FLORESTA ATLANTICA

Resumo:

Na Floresta Atlântica (FA), todas as espécies de felinos (Felidae, Carnivora) estão sob algum risco de extinção. Assim, é necessário entender os fatores que influenciam na distribuição e permanência dessas espécies-chave já que elas possuem importantes funções ecossistêmicas. Com intuito de evitar futuras extinções locais, e consequentes efeitos de cascatas tróficas, utilizamos modelos de distribuição potencial de espécies para 1) identificar áreas climaticamente adequadas para dez espécies de felinos ao longo da FA; e 2) avaliar o quanto dessas áreas estão protegidas por Unidades de Conservação de Proteção Integral (UCPIs). Utilizamos 5.819 registros de ocorrência coletados entre 2000 e 2021 disponíveis na literatura, e quatro variáveis bioclimáticas (Worldclim v.2) em uma abordagem de ensemble forecasting para gerar os modelos a partir de três algoritmos: MaxEnt, Random Forest e o MDA (análise discriminante múltipla). Todos modelos tiveram bons desempenhos com TSS (estatística de habilidade verdadeira) > 0.40. Sendo os melhores resultados para Leopardus munoai e Leopardus geoffroyi (TSS = 0.93 para ambas espécies). Nossos resultados mostraram que a região meridional da FA possui adequabilidade climática para a maioria das espécies aqui estudadas. A FA nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina tiveram extensas áreas adequadas para Leopardus guttulus, Leopardus wiedii, Leopardus pardalis, Herpailurus yagouaroundi, Puma concolor e Panthera onca. Áreas com adequabilidade climática para L. guttulus, H. yagouaroundi, P. concolor e P. onca não foram maiores que a distribuição já conhecida para estas espécies. Para os demais felinos, nossos modelos indicaram uma expansão da distribuição potencial, principalmente ao norte da FA, podendo ser uma região importante para futuros estudos de levantamento de espécies. As áreas adequadas para todas espécies têm menos de 8% de extensão dentro dos limites das UCPIs (L. munoai (0,9%), Leopardus braccatus (4,2%), L. geoffroyi (0,8%), L. guttulus (4,4%), L. wiedii (5,6%), H. yagouaroundi (3,1%), Leopardus emiliae (3,4%), Leopardus pardalis (6,1%), P. concolor (7,8%) e P. onca (7,9%)). Logo, o atual sistema de UCPIs da FA representa uma parcela pequena da área climaticamente adequada para as espécies estudadas e pode ser insuficiente para a conservação das mesmas. Espécies com distribuição geográfica restritas tendem a ter distribuições mais reguladas pelo clima que as de distribuição ampla, já que a distribuição pode estar condicionada a tolerância a variações climáticas. Esses resultados são preocupantes para a conservação de L. munoai e L. emiliae que além de terem distribuições mais restritas, foram recentemente descritas como espécies plenas, carecendo de mais estudos e avaliações quanto aos seus status de conservação. Diante desses achados, enfatizamos a importância da criação e manutenção de UCPIs que incluam áreas de alta adequabilidade climática para os felinos ameaçados, particularmente em áreas protegidas transfronteiriças entre o Brasil e Argentina visando proteger L. braccatus, H. yagouaroundi, P. concolor e P. onca, e também com o Paraguai para as espécies H. yagouaroundi e P. onca. Essas são medidas chave para a conservação de felinos na FA.

Palavras-chave: conservação, felidae, lacunas de proteção, modelos de distribuição de espécies

Financiamento:

Paula Ribeiro-Souza é apoiada por uma bolsa de doutorado (n° 88887.519051/2020-00) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Houve apoio do Projeto Fauna Floripa, parceria entre a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (FLORAM), o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA-SC) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Júlio Haji agradece ao CNPq (processo #130769/2021-5) pelo apoio financeiro à pesquisa. Milton Cezar Ribeiro agradece à FAPESP (processos #2013/50421-2; #2020/01779-5; #2021/08534-0; #2021/10195-0) e CNPq (processos #442147/2020-1; #402765/2021-4; #313016/2021-6) pelo apoio financeiro à pesquisa. Julia Oshima recebe bolsa Fapesp (processo #2021/02132-8).

Área

Conservação

Autores

Paula Ribeiro-Souza, Júlio Haji, Maurício Eduardo Graipel, Milton Cezar Ribeiro, Júlia Emi de Faria Oshima , Fernando Lima, Barbara Lima-Silva, José Salatiel Rodrigues Pires