11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

CENSO DA CAÇA DE SUBSISTENCIA EM COMUNIDADES RURAIS DA RESERVA EXTRATIVISTA TAPAJOS-ARAPIUNS, AMAZONIA, BRASIL

Resumo:

A fauna silvestre é utilizada por populações tradicionais para diversas finalidades, principalmente para alimentação, mas também para atividades culturais, uso como animais domésticos, ou mesmo para o comércio. Na Amazônia, a caça de subsistência possui grande importância por oferecer proteína para diversas comunidades locais. No Pará, a Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns (RESEX-TA) monitora a caça de subsistência de forma participativa desde 2014, por meio do Monitora (Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade). Como parte das atividades desse programa, objetivou-se realizar um diagnóstico do perfil da atividade de caça em nove comunidades que integram o Monitora na RESEX. Entre 2018 e 2019, monitores capacitados realizaram entrevistas com representantes de famílias dessas comunidades. Segundo a orientação, as entrevistas deveriam ser realizadas em 100% das famílias de cada comunidade e a prestação de informações seria voluntária. Os resultados mostram que 70% (n=544) das famílias participaram do censo da caça, e que essas têm nos benefícios sociais (n=258), na agricultura de pequena escala (n=245) e na aposentadoria (n=174) as principais fontes de renda mensal. Foi possível observar também que 45% (n=244) das famílias caçam, ou seja, mais da metade não pratica a caça de subsistência. Em contrapartida, 65% (n=353) relataram comprar a carne de caça. A caça na região é destinada principalmente para o consumo familiar (n=238), mas tem também quem a comercialize localmente (n=10). A principal técnica utilizada para caçar na RESEX é o mutá (n=188), que consiste na espera por um animal de interesse principalmente em cima de árvores em frutificação (visitada por animais devido a disponibilidade de frutos caídos) e nos chamados “barreiros” (áreas próximas a cursos de água, na mata, frequentadas por animais que buscam por sais minerais disponíveis). Outras técnicas bastante utilizadas são a caminhada (n=95) e o ramal (ou varrida) (n=68) que consistem na busca ativa de animais, sendo a segunda realizada em trilhas previamente limpas e a primeira em qualquer localidade na mata onde o caçador busca vestígios de animais que passam por ali. Mesmo sendo proibida pelo Acordo de Gestão da Unidade, a caça com cachorro ocorre na região (n=61). Os principais animais caçados na Tapajós-Arapiuns são a cutia (Dasyprocta croconota) (n=125), a paca (Cuniculus paca) (n=82) e o tatu (Dasypus spp. / Cabassous unicinctus) (n=78), sendo também esses os mais preferidos para consumo (devido ao sabor, tamanho e qualidade da carne), com exceção da carne de veado (Mazama americana / Mazama nemorivaga) que é a segunda caça mais preferida e não está entre as três mais consumidas. Ainda que este censo seja fruto de um projeto realizado com apenas nove das 74 comunidades da RESEX, o padrão de composição das espécies abatidas pode ser representativo para toda a região, pois todas as comunidades estão igualmente em áreas de terra-firme e de forma que o limite de uma faz fronteira com os limites da outra, não havendo nenhuma barreira geográfica que impeça a passagem dos animais. Além disso, os resultados deste censo casam com os obtidos por estudos realizados anteriormente em comunidades desta unidade de conservação.

Financiamento:

As atividades desta pesquisa foram realizadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), e financiadas pela Fundação Gordon e Betty Moore, Agência Americana de Desenvolvimento (USAID) e pelo Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA).

Área

Etnozoologia

Autores

Yasmin Sampaio Reis, Bianca Diniz da Rocha, Rubia Almeida Maduro, Jackeline Nóbrega Spínola