11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

CONTAMINAÇAO POR METAIS PESADOS EM ARIRANHAS NO PANTANAL

Resumo:

A expansão das atividades humanas no ambiente natural leva à perda e degradação do habitat e representa ameaça à conservação dos animais selvagens. Efluentes industriais, mineração e insumos agrícolas podem contaminar o ambiente com elementos potencialmente tóxicos, como metais pesados. Predadores de topo das cadeias tróficas, como as ariranhas (Pteronura brasiliensis), são vulneráveis a essas substâncias, devido aos efeitos de bioacumulação ao longo da cadeia alimentar. A mineração de ouro ocorre no Pantanal há séculos, ameaçando a vida selvagem na região. Apesar disto, ainda há carência de informação a respeito dos níveis de contaminação da fauna silvestre por metais pesados no Pantanal. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a concentração de diferentes metais pesados em amostras de pelos de ariranhas ao longo do Pantanal, e avaliar se existe um gradiente de contaminação em relação à localização das áreas de mineração. O estudo foi conduzido em 11 áreas distribuídas pelo Pantanal. Coletamos 20 amostras de pelos de ariranhas entre set/2020 e out/2021, utilizando armadilhas de pelo. As concentrações de metais pesados foram determinadas por ICP-MS. Detectamos concentrações abaixo do limite considerado tóxico de crômio (Cr, 4,62±5.49, limite=0,15-17,65 μg·g-1), cádmio (Cd, 0,02±0,034, <0,10-0,11 μg·g-1), chumbo (Pb, 0,63±1,92, <0,10-9,4 μg·g-1), e arsênio (As, 0,41±0,39, 0,02-5,60 μg·g-1) para esta espécie. Entretanto, as concentrações de mercúrio (Hg, 12,58±11,51, 3,12-51,51 μg·g-1) nas ariranhas foram geralmente mais elevadas que o considerado normal para lontras (1-5 μg·g-1). A concentração de mercúrio aumentou em função da proximidade e conectividade, via calha dos rios, da área considerada fonte de contaminação (P0), localizada no Rio Bento Gomes, que drena a região das minerações de ouro de Poconé, MT. As amostras provenientes de ariranhas desta área apresentaram valores até dez vezes (51,5 μg·g-1) superior ao limite seguro para o grupo. Na região de Porto Jofre, distante cerca de 200 km do P0, encontramos a concentração de aproximadamente 15 μg·g-1, próximo à média de 11,7 μg·g-1 para a região do Amolar, no Rio Paraguai, a cerca de 400 km rio abaixo do P0. Em pontos a mais de 500 km distantes do P0, os valores variaram entre 3,5 a 9 μg·g-1, semelhantes a pontos próximos a P0, mas sem conexão via canal do rio, como o Rio Claro (56-69 km) e Rio Pixaim (72 km), com cerca de 4,5 a 4,8 μg·g-1 de Hg. Estes resultados indicam concentrações de Hg acima do aceitável e mostram um gradiente de contaminação a partir das áreas mais próximas das minerações até áreas mais distantes, desde que conectadas por rios. Valores elevados de mercúrio já foram encontrados em outros estudos em onças, peixes e aves nas áreas próximas às mineradoras. Os valores elevados de Hg encontrados nas ariranhas servem como um alerta, tanto para conservação da vida selvagem, quanto para a população humana ribeirinha, que vive próximo a essas áreas de mineração e que se alimenta de peixes e, portanto, também sujeitas à contaminação.

Palavras chave: Mercúrio, contaminação, metais pesados, pantanal, mustelídeos

Financiamento:

Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul
Houston Zoo
Embrapa Pantanal
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CNPq (Bolsa)
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Grupo Exata Brasil

Área

Ecologia

Autores

Nathalie Edina Foerster, Guilherme de Miranda Mourão, Grazielle Cristina Garcia Sorezini, Caroline Leuchtenberguer, Daniela de Assis Bócoli, Janaíne de Brito Paiva, Carlos Henrique Hoff Brait