11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

Composição de mamíferos não voadores do Sertão Central do Ceará, Nordeste do Brasil

Resumo:

O estado do Ceará, embora seja considerado um palco histórico importante para o estudo da mastofauna brasileira, apenas mais recentemente teve sua riqueza revelada com mais profundidade. Dentre as pesquisas mais recentes, o Inventário de Mamíferos Continentais do Ceará documenta 128 espécies. Tanto os artigos quanto o panorama dos locais de estudo de todos os trabalhos publicados no Ceará revelam que o Sertão Central representa uma das principais lacunas amostrais para a pesquisa de mamíferos no estado. Nosso objetivo é ajudar a suprir parte dessa lacuna para as espécies de mamíferos não voadores, avaliar as extinções locais e fornecer subsídios para planos de conservação eficazes para o Sertão Central do Ceará (SCC). O trabalho de campo foi realizado em Quixadá – Ceará, em três localidades: Hotel Pedra dos Ventos, Fazenda Logradouro e Fazenda Ouro Preto. Além disso, foram adicionados dados secundários dos municípios de Ibaretama, Ibicuitinga, Banabuiú e em Morada Nova, todos inseridos no SCC. Os dados foram obtidos entre janeiro de 2017 a abril de 2021 por meio de armadilhas fotográficas, registros visuais de indivíduos vivos, rastros e registros de animais atropelados. O levantamento foi complementado com a análise dos espécimes em coleções e entrevistas com comunidades locais, a fim de documentar espécies potencialmente não amostradas, ameaçadas e extintas localmente. No total, 22 espécies de mamíferos não voadores pertencentes a 14 famílias e sete ordens foram registradas. Carnívora é a ordem mais especiosa (n = 8 spp.), seguida por Rodentia (n = 5 spp.). Os dados foram obtidos por armadilha fotográfica (n = 78), registros visuais (n = 50), atropelamento (n = 36), pegadas (n = 14), espécimes de coleção (n = 5) e vocalização (n = 2). Ao todo, 19 espécies (86,3%) documentadas foram mencionadas pelos informantes e todas as espécies consideradas como existentes pelos entrevistados foram registradas no trabalho de campo. Em paralelo, cinco espécies foram citadas como extintas (Cuniculus paca, Tolypeutes tricinctus, Dicotyles tajacu, Panthera onca e Alouatta sp.). A diversidade obtida no SCC representa 35% dos não-voadores e 17,1% de todos os mamíferos continentais listados no inventário estadual. Dentre as espécies não voadoras da Caatinga, esse número representa 23,6%. É importante ressaltar que não houve trabalho de campo focado em espécies de pequeno porte. Há pouca informação disponível em coleções científicas sobre esta região e, certamente, a instalação de armadilhas resultaria em uma maior diversidade. Portanto, é plausível considerar o número aqui obtido como subestimado. Ainda assim, esse número é maior do que o apresentado em outros trabalhos realizados na Caatinga. Todavia, além das extinções citadas, alguns mamíferos de médio e grande porte presentes em outras áreas do estado não foram documentados, certamente devido a problemas como caça, atropelamento e perda de habitat. Com isso, nossos resultados indicam que o SCC é um potencial hotspot de biodiversidade da Caatinga, mas as extinções locais e as ameaças mencionadas sugerem que esta região já enfrenta um cenário preocupante de defaunação.

Caatinga; Conservação; Inventário; Nordeste.

Financiamento:

Área

Inventário de espécies

Autores

Antonio Millas Silva Pinto, Francisco Werlyson Pinheiro, Erica Demondes Tavares , Nadia Santos Cavalcante, Luiz Carlos Firmino de Souza Filho , Luiza Teixeira de Almeida, Hugo Fernandes-Ferreira