11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

EQUILIBRIO E TUDO: MORCEGOS QUE SE ABRIGAM EM CAVERNAS COM MAIOR ESTABILIDADE AMBIENTAL APRESENTAM MENORES INFESTAÇOES POR MOSCAS ECTOPARASITAS

Resumo:

Cavernas são abrigos importantes para morcegos. Entretanto, estes animais são seletivos na escolha de quais cavernas utilizam e cavernas ambientalmente mais estáveis, i.e., maiores e com menor número de entradas, tendem a favorecer a permanência de colônias de morcegos. Paralelemente, alguns estudos têm indicado que morcegos cavernícolas, no geral, estão mais propícios a albergarem maiores cargas de ectoparasitos do que aqueles que usam abrigos relativamente efêmeros e mais susceptíveis às variações ambientais do entorno, como a folhagem das copas de árvores, por exemplo. Entretanto, há uma carência de estudos detalhando quais fatores influenciam as interações ecológicas envolvendo morcegos e ectoparasitos em ambientes cavernícolas. Neste contexto, usamos o morcego cavernícola Pteronotus gymnonotus (Mormoopidae) como espécie modelo para testar se o tamanho da colônia e a estabilidade ambiental da caverna estariam correlacionados com as infestações por moscas ectoparasitas (Streblidae). Pteronotus gymnonotus foi escolhida por formar colônias numerosas, ultrapassando em alguns casos 100.000 indivíduos em algumas cavernas. Em julho de 2019, amostramos populações de P. gymnonotus e suas moscas ectoparasitas associadas em oito cavernas nos estados Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe, distribuídas ao longo de cerca de 700 km. Usamos prevalência e abundância como índices parasitológicos descritores das relações morcego-mosca. Para determinar o tamanho das colônias, a emergência dos morcegos foi filmada com câmera termossensível, seguida por contagem automática usando um algoritmo especificamente desenvolvido para esta finalidade. Para cada caverna, também calculamos o Índice de Estabilidade Ambiental (IEA), a partir de medidas da projeção horizontal da caverna, número de entradas, largura de cada entrada e distância média entre entradas. Testamos a correlação entre o tamanho das colônias e o IEA com os índices parasitológicos. No total, amostramos 282 morcegos e 513 moscas. As populações de P. gymnonotus apresentaram prevalência de infestação variando de 24% a 95% e abundância média de 2 a 5 moscas por morcego. O tamanho das colônias variou de 5.365 a 98.986 morcegos. Não houve correlação entre o tamanho das colônias e os índices parasitológicos testados. Entretanto, o IEA das cavernas foi inversamente correlacionado à prevalência (rs = -0,714, P = 0,03) e à abundância (rs = -0,762, P = 0,02). Quanto mais ambientalmente estável a caverna era, menor foi a frequência e intensidade do parasitismo sobre os morcegos. Nossos achados sugerem que, ao preferirem cavernas com maior estabilidade ambiental, os morcegos da espécie P. gymnonotus também se beneficiariam com menores níveis de infestação por moscas ectoparasitas. A estabilidade ambiental da caverna deve ser considerada quando do estudo das relações entre morcegos e moscas ectoparasitas e nossos resultados precisam ser testados para outras espécies. Complementarmente, estudos sobre biologia, ecologia e história natural das moscas estréblidas em ambientes cavernícolas são necessários para um entendimento mais amplo sobre essa dinâmica parasitária.

Financiamento:

CAPES, CNPq, FACEPE

Área

Ecologia

Autores

Eder Barbier, Jennifer de Sousa Barros, Enrico Bernard