11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

FATORES CLIMATICOS, GEOGRAFICOS E DE IMPACTO HUMANO EXPLICAM A BIOMASSA DE PRIMATAS NA MATA ATLANTICA

Resumo:


Os primatas estão entre os maiores frugívoros arbóreos e desempenham papéis fundamentais para o funcionamento dos ecossistemas. Porém, são alvos de estressores generalizados, como perda e fragmentação de habitat, caça e mudanças climáticas. A sinergia desses fatores pode levar ao colapso da biomassa de primatas em ecossistemas altamente fragmentados como é o caso da Mata Atlântica. Aqui, nosso objetivo foi investigar quais fatores influenciam a distribuição da biomassa de espécies primatas em áreas protegidas e não protegidas na Mata Atlântica. Para isso, utilizamos dados compilados de assembleias de primatas do data paper “ATLANTIC MAMMALS: a data set of assemblages of medium and large-sized mammals of the Atlantic Forest of South America”. A partir da lista de espécies de primatas, compilamos dados de massa corporal e calculamos a biomassa média de espécies de primatas para cada localização. Além disso, extraímos as seguintes variáveis ambientais: temperatura média anual (TMA), precipitação anual (PA), sazonalidade de precipitação (SP), sazonalidade de temperatura (ST), altitude e índice de impacto humano. Construímos modelos lineares para áreas protegidas e não protegidas considerando a biomassa média de espécies de primatas como variável resposta em função das variáveis ambientais. Verificamos a colinearidade das variáveis preditoras por meio da correlação de Spearman e do fator de inflação da variância. Utilizamos o método dos mínimos quadrados generalizados pois os resíduos dos modelos lineares apresentaram correlação significativa em classes de distâncias próximas. As inferências foram realizadas através das estimativas médias dos parâmetros dos modelos mais bem ajustados (ΔAIC<4). Observamos que altitude e ST tiveram efeito positivo, enquanto SP teve efeito negativo na biomassa média das espécies de primatas em áreas protegidas da Mata Atlântica. Nas áreas não protegidas, a biomassa de primatas foi associada positivamente com PA e negativamente com o índice de impacto humano. Este resultado evidencia a importância da precipitação em predizer uma maior biomassa de primatas em áreas protegidas e não protegidas da Mata Atlântica. A precipitação é um dos principais moduladores da alta produtividade das florestas tropicais, fornecendo recursos que mantêm os requerimentos energéticos dos grandes primatas. Além disso, áreas protegidas mais elevadas abrigam os gêneros de primatas de maior tamanho corporal na Mata Atlântica – Brachyteles e Alouatta, favorecendo uma maior biomassa média nesses locais. O efeito positivo da ST (associada a baixas latitudes e menor SP) na biomassa, pode refletir a influência indireta dos padrões latitudinais de riqueza de espécies esperada para as florestas tropicais e os efeitos da baixa SP na oferta e disponibilidade de recursos. Por fim, a associação da redução da biomassa ao aumento do impacto humano pode refletir a sinergia dos efeitos antrópicos históricos e atuais em locais não protegidos da Mata Atlântica e que, portanto, não estão protegidos pela legislação ambiental. Estudos como esse podem nos ajudar a compreender as respostas potenciais das espécies de primatas às mudanças climáticas e de impacto humano, com possíveis implicações sobre suas funções nos ecossistemas.

Palavras-chave: clima, defaunação, florestas, unidades de conservação, macroecologia

Financiamento:

Área

Biogeografia/Macroecologia

Autores

Fernanda Cristina Souza, Ana Beatriz Ligo, Marcela Frias Barreto