11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

USANDO O DNA DERIVADO DA DIETA DE MOSCAS E MOSQUITOS PARA DETECTAR ESPECIES DE MAMIFEROS

Resumo:

O uso de invertebrados como amostradores de fauna tem sido sugerido como uma metodologia para monitoramento da biodiversidade. A partir do conteúdo estomacal ou do intestino de invertebrados, é possível recuperar traços de DNA (iDNA–invertebrate derived DNA) e identificar as espécies de vertebrados consumidas por eles. O uso de invertebrados como amostradores é vantajoso, pois são de fácil amostragem, tem dieta variada, e possuem ampla distribuição, principalmente em regiões quentes e úmidas como nos neotrópicos. Apesar dessas vantagens, o uso do iDNA para detecção de mamíferos ainda é pouco explorado. O objetivo do nosso estudo foi verificar a efetividade de moscas e mosquitos para detectar mamíferos, comparando o número de espécies identificadas pelo iDNA de cada um desses grupos e o raio de cobertura desses insetos como amostradores. O estudo foi conduzido no “Parque Ecológico de São Carlos” (PESC), São Carlos/SP, onde há espécies de interesse em cativeiro, permitindo controlar a localidade fonte do material genético. Armadilhas CDC e de garrafa pet iscadas com carne foram instaladas para captura dos mosquitos e moscas, respectivamente, distribuídas em 8 pontos pelo PESC e ativas por 5 dias. Os insetos coletados foram armazenados em etanol absoluto e mantidos em freezer até a extração do DNA. Os insetos foram triados em 17 mosquitos hematófagos ingurgitados (MqH), 11 moscas hematófagas (McH) e 35 moscas saprófagas (McS). Dois mini-barcodes de duas regiões gênicas, o 12S e o 16S, foram amplificados em PCRs. Para cada grupo triado em cada ponto foram, utilizados primers com tags de sequências únicas, permitindo rastrear essas informações no sequenciamento de metabarcoding, feito em plataforma Illumina. Identificamos 45 espécies de mamíferos, de 10 diferentes ordens (Artiodactyla, Carnivora, Chiroptera, Cingulata, Didelphimorphia, Lagomorpha, Perissodactyla, Pilosa, Primates e Rodentia). Dessas, 8 espécies foram registradas exclusivamente pelos mosquitos e 20 pelas moscas. Foram identificadas tanto espécies presentes em cativeiro, quanto espécies domésticas (ex. Canis lupus) e de vida livre (ex. Procyon cancrivorus). Não houve diferença entre o número de espécies recuperadas por indivíduo de moscas e mosquitos (MqH: 3,6±4,3 espécie/inseto, McH: 2,8±1,4 espécie/inseto, McS saprófagas: 2,7±1,7 espécie/inseto; Kruskall-Wallis=0,14, df=2, p=0,934), embora o número de moscas capturadas tenha sido maior, resultando em mais espécies recuperadas por esse grupo. O raio máximo de alcance registrado para as moscas foi de 333 m e para os mosquitos foi de 225 m (MqE: 68 a 225 m, McE: 68 a 333 m, McS: 52 a 265 m), porém a distância média de alcance não diferiu entre os grupos (F2,42=0.896, p=0.416). A metodologia mostrou-se eficiente para a detecção de mamíferos, considerando o alto número de espécies detectadas no curto tempo de amostragem. Cada ponto amostral pode cobrir até 34 ha da área, e recomendamos um espaçamento de pelo menos 330 m entre os pontos para garantir independência amostral. Os amostradores apresentam efetividade similar quanto ao número de espécies registradas e ao raio de cobertura, porém houve diferença nas espécies registradas por cada grupo desses insetos, indicando que eles devem ser utilizados em conjunto. Palavras-chave: biodiversidade, inseto, invertebrate-derived DNA, metabarcoding, vertebrados.

Financiamento:

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP 17/23548-2, 22/01741-3)

Área

Conservação

Autores

Bruno H. Saranholi, Karen G. Rodriguez-Castro, Carolina S. Carvalho, Samira Chahad-Ehlers, Carla C. Gestich, Sónia C.S Andrade, Patrícia D. Freitas, Pedro M. Galetti Jr