11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

VARIAÇAO MORFOMETRICA DO ATLAS EM ECHIMYIDAE (HYSTRICOGNATHI, RODENTIA)

Resumo:

Echimyidae (ratos-de-espinho, hutias e ratão-do-banhado) iniciou sua diversificação no Mioceno e hoje compreende cerca de 100 espécies viventes, distribuídos em 28 gêneros e 4 subfamílias, incluindo linhagens semifossoriais, ambulatoriais, arborícolas e semi-aquáticas, tornando-a a família de caviomorfos com maior diversidade ecológica e taxonômica. Deste modo, os equimiídeos compõem modelo promissor para identificarmos como fatores ecológicos associados à locomoção interferem na evolução do esqueleto pós-craniano. Nos mamíferos, a região cervical é responsável por sustentar e realizar movimentos do pescoço e do crânio, além de ligar o crânio ao resto da coluna vertebral. Essa região é altamente conservada quanto ao número de vértebras, mas pouco se sabe sobre sua disparidade morfológica. Hipotetizamos que a disparidade morfológica da primeira vértebra cervical (atlas) dos equimiídeos reflete i) sua história filogenética e ii) as diferentes demandas biomecânicas dos hábitos locomotores. Para testar estas hipóteses, examinamos 97 espécimes de 16 gêneros e 24 espécies viventes e 1 extinta (Eumysops chapalmalensis). Cada atlas foi fotografado sob vistas cranial, caudal e dorsal e submetido a análises de morfometria geométrica bidimensional. Após retirarmos o efeito alométrico, projetamos 28 landmarks e 77 semi-landmarks nas fotografias, realizamos Análises de Procrustes, seguida de Análises de Componentes Principais para identificar os eixos de maior variação na forma. Subsequentemente, métodos comparativos filogenéticos foram empregados para avaliar presença de sinal filogenético e efeito dos hábitos locomotores na estruturação da disparidade. Com bases nas estimativas de K de Blomberg foi detectado significativo sinal filogenético em todas as vistas examinadas (0,599 < Kmulti < 0,746; p < 0.001), e a ANOVA sugeriu importante influência dos hábitos locomotores (1,998 < F < 18,032; P < 0,010) sobre a disparificação morfológica. Sob todas as vistas as espécies com diferentes hábitos tenderam a ocupar regiões distintas no morfo-espaço; sendo esta diferenciação mais acentuada sob vista dorsal, seguida da caudal. Sob vista dorsal, ao longo de CP1 (31,9%), os semi-fossoriais destacam-se dos demais hábitos por possuírem o arco neural reduzido crânio-caudalmente e o processo transverso expandido lateralmente, enquanto os arborícolas apresentam a condição oposta e os ambulatoriais condição intermediária. Sob vista caudal, ao longo de CP1 (28,9%) os arborícolas diferenciam-se dos demais hábitos por possuírem a pós-zigapófise com forma mais arredondada e o forame neural reduzido. Sob vista cranial, houve maior sobreposição dos diferentes hábitos locomotores nos morfo-espaços. Esta vista mostrou-se ecologicamente menos informativa que as demais, possivelmente devido à sua forte associação com a sustentação do crânio. Por outro lado, as demais vistas descrevem estruturas funcionalmente mais associadas com a movimentação do pescoço, portanto, mais implicadas na locomoção. Em todas as vistas, o semiaquático Myocastor ocupou regiões próximas aos terrestres e semi-fossoriais. Eumysops chapalmalensis agrupou-se com as espécies ambulatoriais, corroborando estudos prévios que estimam o hábito terrestre para esta espécie. Nossos resultados preliminares sugerem que, além da filogenia, existe um importante componente funcional associado à diversidade de hábitos locomotores atuando na evolução da forma do atlas dos equimiídeos, sendo possível observar convergência evolutiva em linhagens independentes de arborícolas e de terrestres.
Palavras-chave:
Caviomorpha, cervical, esqueleto axial, locomoção, ratos-de-espinho, ratão-do-banhado, vértebra

Financiamento:

Bolsa de doutorado CAPES

Área

Anatomia e Morfologia

Autores

Thomas Furtado Silva Netto, William Corrêa Tavares, Adriana Itatí Olivares