11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

VARIAÇAO TEMPORAL EM COMPONENTES DO NICHO TROFICO DE GRANDES FELINOS EM UM REMANESCENTE DE MATA ATLANTICA

Resumo:

As relações tróficas e competitivas são espacial e temporalmente dinâmicas. Este estudo objetivou avaliar a variação temporal da dieta da onça-pintada (Panthera onca-PO) e da onça-parda (Puma concolor-PC), determinando o potencial de competição entre estes predadores simpátricos. Amostras fecais foram coletadas no Complexo Florestal Linhares-Sooretama (CFLS), Espírito Santo (sudeste do Brasil), em dois períodos. O primeiro período (P1) foi baseado em dados secundários (1996: PO=101 e PC=98 amostras). Para o segundo período (P2) foram utilizadas amostras coletadas entre 2017-2021 (PO=82 e PC=21 amostras). Para análise de dados, foram calculadas: porcentagem de ocorrência (PO%) de presas individuais, agrupadas por tamanho (pequeno<1 kg; 1>médio<15 kg; grande>15 kg) e classes taxonômicas; Amplitude de Nicho (AN) e Sobreposição de Nicho (SN). AN foi calculada considerando presas individuais, tamanho e taxonomia. Valores de AN variam entre 0 (dieta especializada) e 1 (dieta generalista), assim como SN (competição reduzida ou elevada, respectivamente). Para cálculo de AN e SN foram consideradas apenas presas principais (PO%≥5 em pelo menos um período), sendo o total ajustado para PO%=100. O número de presas variou entre períodos apenas para PC (PO:17-15; PC:19-8). Presas principais de cada felino variaram em identidade e corresponderam a pequeno número de táxons nos dois períodos (PO:5-5, compartilhamento=2; PC:5-3, compartilhamento=1), embora tenham representado maior parte dos itens consumidos (PO%–PO:78,2-83,0; PC:75,1-82,8). Foi observado baixo consumo de presas de pequeno porte por ambos predadores e alternância no consumo de táxons de médio e grande tamanho, especialmente para PC (PO%–PO:grande=34,3-52,3; médio=64,9-47,0; pequeno=0,8-0,8; PC:grande=16,6-75,9; médio=79,4-20,7; pequeno=4,0-0,8). Mamíferos foram o grupo mais consumido pelos dois felinos (PO%–PO:Mamíferos=86,8-97,8; Répteis=10,3-0,0; Aves=2,9-2,2; PC:Mamíferos=95,5-100,0; Répteis=3,9-0,0; Aves=0,6-2,2). As presas principais foram, portanto, de grande e médio porte (PO%–PO:grande=35,8-56,2; médio=64,2-43,7; PC:grande=19,3-87,5; médio=80,7-12,5), mas houve variação taxonômica apenas para PO (PO%–PO:Mamíferos=89,7-100,0; Répteis=10,3-0,0; PC:Mamíferos=100,0-100,0). A especialização da dieta ocorreu somente para PC considerando presas individuais no P2 (AN–PO:0,731-0,690; PC:0,765-0,271) e tamanho nos dois períodos (AN–PO:0,425-0,485; PC:0,226-0,141), sendo ambos predadores especialistas quanto à taxonomia, independente do período (AN–PO:0,114-0,000; PC:0,000-0,000). A SN foi intermediária para itens individuais (POxPC:0,471-0,494) e alta analisando tamanho (POxPC:0,963-0,868) e taxonomia (POxPC:0,993-1,000). A composição de presas variou, embora a especialização elevada em itens mais energéticos tenha sido mantida pelos dois felinos. Neste sentido, sugere-se que a diferenciação das presas principais contribua para modulação da competição e que a partição de itens individuais com diferentes taxas de consumo possa favorecer a coexistência destes predadores, mesmo com alto nível de compartilhamento de determinadas presas. Isso ressalta a importância da manutenção de comunidades de presas mais completas ao longo do tempo para que possam ser realizados ajustes da dieta sem aumento expressivo da competição. A maior especialização e a maior variação no consumo de presas subótimas/ótimas por PC, mantendo nível intermediário de competição por itens individuais com PO, confirmam a natureza mais oportunista e subordinação competitiva da primeira espécie. A variação da dieta parece representar elemento-chave para regulação da competição entre os felinos analisados e para modulação da pressão de predação sobre determinados táxons no CFLS, possibilitando a manutenção das interações entre populações.

Financiamento:

Vale e FAPES (Projeto 510/2016).

Área

Ecologia

Autores

Hilton Entringer Jr, Ana Carolina Srbek-Araujo