11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

A PLASTICIDADE NO USO DOS RECURSOS DO MAIOR ROEDOR VIVENTE DO MUNDO

Resumo:

A capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) é o maior roedor vivente do mundo, apresentando certas peculiaridades por ser um grande herbívoro, com hábito semiaquático e comportamento social, ocorrendo desde paisagens preservadas até altamente modificadas. Sua habilidade em ocupar diferentes habitats ressalta sua plasticidade comportamental, o que pode refletir uma possível plasticidade no uso dos recursos alimentares. A capivara alimenta-se predominantemente de gramíneas (plantas C4), no entanto, essa também ocupa habitats florestais, com disponibilidade limitada desse tipo de recurso. Neste estudo, analisamos o uso dos recursos das capivaras por meio dos isótopos estáveis de carbono (d13C) e nitrogênio (d15N) em 10 populações em dois tipos de paisagens distintos, naturais (N=2) e antropizadas (N=8). Coletamos pelos de 176 indivíduos capturados, e os submetemos a análise isotópica. Visando determinar a origem dos recursos consumidos [p.ex., floresta (C3) e agricultura (C4)], calculamos as proporções dos isótopos de carbono nos pelos. Comparamos os valores isotópicos entre populações e paisagens utilizando perMANOVA e a diferença na homogeneidade multivariada da dispersão dos grupos. Para determinar a similaridade no uso dos recursos entre populações e paisagens, calculamos o tamanho e a sobreposição de nichos isotópicos, uma representação do nicho alimentar, utilizando um estimador de densidade de Kernel a 50% (nicho central) e 95% (nicho total). Por meio da análise de ANCOVA, verificamos que massa corporal, sexo e classes etárias não influenciaram os valores isotópicos. Observamos grande variação nos valores de d13C (intervalo=15,6‰) e d15N (intervalo=6,8‰) dentro e entre as populações de capivaras. Os valores de d13C foram maiores em paisagens antropizadas, enquanto os valores de d15N foram semelhantes entre os dois tipos de paisagens. Os valores isotópicos foram influenciados tanto pelas populações (perMANOVA; R²=0,37, F=135,46, p=0,001) quanto pelo tipo de paisagem (R²=0,17, F=61,43, p=0,001). A dispersão multivariada foi heterogênea entre populações (F=9,04, df=9, p=0,001) e homogênea entre os tipos de paisagem (F=0.12, df=1, p=0,74). As populações apresentaram grande variação no uso dos recursos dentro e entre as populações, indo de dietas estritamente C4 até elevada incorporação de recursos C3. Considerando todos os indivíduos, a dieta predominante foi a C4 (55%), mas uma ampla porcentagem de indivíduos misturou recursos C3 e C4 (39%), e poucas dependem exclusivamente de plantas C3 (6%). Indivíduos em paisagens naturais utilizaram mais recursos C3. Houve grande variação no tamanho dos nichos isotópicos, com pouca sobreposição do nicho central. A sobreposição aumentou para o nicho total entre populações que consumiram recursos C4 e que apresentaram valores elevados de d15N. O tamanho do nicho em paisagens antropizadas foi de 2,3-2,6 vezes maior do que em paisagens naturais, com baixa sobreposição do nicho central. Houve alta sobreposição do nicho total de paisagens antropizadas sobre naturais (86%), enquanto o inverso foi bastante inferior (36%). De forma geral, observamos grandes diferenças no uso dos recursos dentro e entre populações de capivaras em paisagens naturais e antropizadas, o que ressalta a plasticidade comportamental e alimentar desse roedor para habitar os mais variados tipos de ambientes.
Palavras-chave: Isótopos estáveis, Nicho alimentar, Dieta, Paisagens modificadas

Financiamento:

FAPESP #2013/18046-7, CNPq

Área

Ecologia

Autores

Marcelo Magioli, Hermes R. Luz, Francisco B Costa, Hector R Benatti, Ubiratan Piovezan, Fernanda Battistella Passos Nunes, Beatriz Lopes, Marcelo Zacharias Moreira, Marcelo Bahia Labruna, Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz