11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

DIVERSIDADE E COMPOSIÇAO DE UMA ASSEMBLEIA DE MORCEGOS (MAMMALIA: CHIROPTERA) EM AREA PERIURBANA NA FLORESTA ATLANTICA.

Resumo:

Os fragmentos que compõem a pequena porcentagem remanescente de vegetação nativa no estado de São Paulo encontram-se muitas vezes isolados em uma matriz agrícola ou urbana. A fragmentação dos hábitats, por sua vez, impacta os processos ecológicos, levando à perda de biodiversidade e ameaças aos serviços ecossistêmicos. Além de apresentarem grande potencial para desenvolvimento de pesquisas científicas, estudos da quiropterofauna em remanescentes florestais urbanos e periurbanos, de forma multidisciplinar, podem fornecer subsídios para iniciativas conservacionistas e de saúde pública no contexto de saúde única. Foram realizadas 4 campanhas de levantamento da quiropterofauna em um fragmento de 240 hectares, no Sítio Piraquara, município de São Lourenço da Serra, entre 2020 e 2022. A vegetação constitui um conjunto de fragmentos de floresta secundária em estágio médio/avançado de regeneração com uma diversidade de fisionomias, e diversos cursos e corpos d’água. Há mais de meio século atrás estas áreas foram utilizadas para extração de mica e produção de carvão. Em cada um dos três pontos de amostragem selecionados foram instaladas 10 redes de neblina por noite, com tamanhos de 9 metros de comprimento x 3 metros de altura, totalizando um esforço de 270 m² de rede por ponto amostral. As redes permaneceram abertas durante quatro horas a partir do crepúsculo. Como método complementar foram realizadas buscas ativas em abrigos. Após a identificação, alguns exemplares foram coletados e outros foram anilhados e soltos no mesmo local da captura. Foram capturados 186 morcegos distribuídos em três famílias e 17 espécies: Anoura caudifer, Artibeus fimbriatus, A. lituratus, Carollia perspicillata, Desmodus rotundus, Diphylla ecaudata, Glossophaga soricina, Micronycteris microtis, Mimon bennettii, Sturnira lilium, S. tildae, Eptesicus brasiliensis, Myotis levis, M.nigricans, M. riparius, M. ruber e Molossus coibensis.
A família Phyllostomidae foi a mais bem representada, com 154 indivíduos capturados, compondo 82,8% do total das capturas. Várias espécies da família Phyllostomidae se alimentam de recursos presentes em estágios iniciais de sucessão, sendo considerados indicadoras de perturbação da floresta quando aparecem em grande abundância relativa. No entanto, apenas as espécies Sturnira lilium, Carollia perspicillata e Desmodus rotundus são mais abundantes. A presença de espécies bioindicadoras das subfamílias Phyllostominae, Micronycteridae e da família Vespertilionidae e Molossidae também foram registradas, indicando certo grau de preservação ambiental.
A possibilidade de novas doenças emergentes de origem zoonótica evidenciou a necessidade de uma visão ecológica integrada entre humanos, animais não-humanos e ambiente. Conhecer a distribuição e densidade de hospedeiro é um dos fatores importantes para prevenir ou mitigar eventos como a atual pandemia. A área de estudos em questão é de fundamental importância, pois espécies capazes de utilizar o ambiente urbano coexistem com espécies de interior de floresta. Algumas espécies, ao transitar entre floresta e ambiente urbano, podem realizar o transporte de patógenos de uma população a outra, o que pode aumentar a diversidade viral, contribuindo para eventos de transbordamento. Compreender a diversidade e composição da quiropterofauna em áreas periurbanas é o primeiro passo para entender a dinâmica da relação vírus-hospedeiro.

Financiamento:

CNPq/MCTI

Área

Inventário de espécies

Autores

Irineu Norberto Cunha, Gabriel Lins Leitão, Amanda de Oliveira Viana, Fernanda Ramos Sandrini, Erika Hingst-Zaher