11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

QUANTO MAIS ESTRADAS, MENOS ESPECIES DE MAMIFEROS CURSORIAIS DE MEDIO E GRANDE PORTE NA MATA ATLANTICA

Resumo:

A riqueza de mamíferos pode ser influenciada pela quantidade e configuração de vegetação nativa, bem como pela presença humana em uma região. Na Mata Atlântica ainda ocorrem 261 espécies de mamíferos, embora restem apenas 28% de vegetação nativa em manchas pequenas e isoladas. Nesse trabalho, avaliamos a relação da riqueza de mamíferos cursoriais maiores que 1kg com a vegetação nativa e a presença humana na Mata Atlântica. As unidades amostrais foram definidas a partir de uma base de dados, a ser publicada como um artigo de dados, de registros de mamíferos na Mata Atlântica por armadilhas fotográficas. Definimos como unidades amostrais (chamaremos de regiões) áreas circulares de raio de 5 km entorno das armadilhas fotográficas, totalizando 126 regiões. Cada região amostrada teve entre uma e 26 câmeras ativas de oito a 3.971 dias entre 2004 e 2020, totalizando em 872 sítios de armadilha fotográfica. As variáveis preditivas utilizadas foram a quantidade de floresta, tamanho, número e isolamento das manchas florestais, densidade humana e de rodovias. Medimos essas variáveis em múltiplas escalas (raios de 10, 15, 20 e 25 km) e consideramos nas análises finais apenas a escala de efeito de cada uma delas (melhor modelo para relação com a riqueza). Competindo modelos lineares generalizados com distribuição de Poisson, avaliamos a relação entre a riqueza de mamíferos e seis variáveis preditivas na escala de efeito de cada uma, e também, incluímos o efeito do esforço amostral usando o número de câmeras e a soma dos dias amostrados por cada câmera nos modelos. A inferência dos modelos foi através do Critério de Informação de Akaike para pequenas amostras (AICc). Obtivemos 6.259 registros, sendo de 25 das 26 espécies-alvo em pelo menos uma das regiões. A riqueza variou entre cinco e 18 espécies em cada região. As espécies mais registradas foram as dos gêneros Didelphis spp., representando 15% do conjunto total de registros, seguido por Dasyprocta spp. e Dasypus spp., ambas 13% do total. Enquanto que, a onça-pintada (Panthera onca) e o cachorro-vinagre (Speothos venaticus) foram registrados apenas duas vezes cada. O resultado da competição dos modelos demonstrou que o modelo contendo apenas a densidade de rodovias foi mais significativo para explicar a riqueza de mamíferos na Mata Atlântica (ΔAICc=0) do que os modelos com as outras variáveis preditivas individuais e o modelo global. O modelo com densidade de rodovias apresentou um efeito negativo na riqueza. A quantidade de floresta foi o segundo modelo com resposta significativa (ΔAICc=9.09) e indicou uma associação positiva com a riqueza observada. Rodovias podem afetar a persistência de populações, e por conseguinte a riqueza, deste grupo-alvo diretamente pelo atropelamento e indiretamente pela facilitação da intensificação dos usos antrópicos do solo e também da caça. A relação entre estes possíveis mecanismos ainda não é evidente, porém nossos dados adicionam evidências sobre a importância de mantermos algumas zonas livres de estradas. O planejamento rodoviário deve fazer parte do manejo de paisagens e das estratégias de conservação das espécies, principalmente em regiões com densa cobertura florestal ou importantes para conservação.

Financiamento:

Área

Ecologia

Autores

INGRIDI CAMBOIM FRANCESCHI, Rubem Augusto da Paixão Dornas , Andreas Kindel, Igor Pfeifer Coelho