11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

USO DA PAISAGEM POR VEADOS NA MATA ATLANTICA DE TABULEIROS NO ESPIRITO SANTO

Resumo:

Os grandes ungulados representam um importante grupo funcional na região Neotropical e sua ausência no ambiente pode ser refletida na perda de consideráveis processos ecológicos. Esse grupo vem sofrendo com pressões antrópicas que afetam a qualidade dos remanescentes florestais, alteram a disponibilidade de recursos e como as espécies ocupam a paisagem. O objetivo deste trabalho foi determinar o padrão de ocupação dos veados, Mazama spp., e avaliar os efeitos dos tipos de habitats e da perturbação humana sobre a ocupação dessas espécies no Complexo Florestal Linhares-Sooretama (CFLS), norte do Espírito Santo. A região, um dos últimos refúgios da Mata Atlântica de Tabuleiros, é composta por um grande bloco de mata, com mais de 50.000 ha. A matriz florestal é circundada por diferentes cultivos agrícolas. No CLFS são encontradas três espécies de veados do gênero Mazama (M. americana, M. gouazoubira e M. nemorivaga), mas devido às dificuldades para a identificação exata das espécies, considerou-se um único grupo, Mazama spp. O monitoramento foi feito com 47 armadilhas fotográficas, entre janeiro e março de 2017, instaladas aleatoriamente em três diferentes habitats: floresta, plantação de eucalipto e agricultura. Para estimar a ocupação do grupo, utilizamos o modelo de ocupação single-species e single-season, que estima a probabilidade que uma área é ocupada durante um intervalo de tempo. Para as estimativas de ocupação, usamos seis variáveis: a menor distância de corpos d’água, estradas, cultivos (cana e cabruca) e eucalipto, além da porcentagem de mata nativa dentro de um buffer de 1 km de raio. Para a detecção, utilizamos três variáveis: menor distância de estradas e cultivos de eucalipto e porcentagem de mata dentro de um buffer de 1 km de raio. O esforço amostral foi de 1.854 câmeras/dia, resultando em 118 registros independentes de veados, com um sucesso de captura de 6,4%. Os veados foram registrados em 23, dos 47 pontos amostrais, com uma ocupação naive de 48,93%. Dos 46 modelos construídos a partir das variáveis selecionadas, dois foram bem classificados (ΔAIC ≤ 2) e todos foram relacionados com a ocupação. Os modelos sugerem que a probabilidade de ocupação dos veados aumenta com a proximidade dos cultivos de cana, da cabruca e de estradas no CFLS. Os resultados indicam, também, que os veados utilizam mais frequentemente as áreas de mata e áreas mais afastadas das plantações de eucalipto. Aparentemente, Mazama spp é um grupo generalista e tolerante a modificações do habitat por atividades humanas na região estudada, o que é uma característica importante, uma vez que permite a exploração de diferentes recursos. Contudo, sabe-se que algumas espécies de veados, como Mazama americana, são consideradas especialistas e sensíveis a modificações antrópicas. Assim, é importante salientar a necessidade da manutenção de grandes blocos de mata associados a um sistema florestal heterogêneo para a persistência e manutenção destas espécies. Mesmo as espécies de veados que possuem certo grau de plasticidade ambiental, inevitavelmente, precisam estar associadas a fragmentos florestais.

Financiamento:

Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES) e Vale S.A. (Termo de outorga 529/2016; Processo 75886634/16). Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código 001.

Área

Conservação

Autores

Jardel Brandão Seibert, Danielle Oliveira Moreira, Andressa Gatti, Sérgio Lucena Mendes