11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

PADRAO DE ATIVIDADE DO GAMBA-DE-ORELHA-PRETA (DIDELPHIS AURITA) EM UM REMANESCENTE DE MATA ATLANTICA NO SUDESTE DO BRASIL

Resumo:

O padrão de atividade de uma espécie é determinado pelo seu ritmo circadiano ou ritmo biológico natural, sendo este responsável pela regulação dos processos biológicos. O presente estudo objetivou caracterizar o padrão de atividade do gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita) em um remanescente de Mata Atlântica no sudeste do Brasil e avaliar se sua atividade é influenciada pela sazonalidade. O estudo foi desenvolvido na Reserva Natural Vale (RNV; Linhares/norte do Espírito Santo) e a coleta de dados foi realizada por meio de armadilhas fotográficas. Os equipamentos foram instalados ao longo de estradas internas não-pavimentadas e no interior de mata. Foram considerados dados obtidos entre junho/2005 e janeiro/2010 e entre março/2018 e fevereiro/2019 (~67 meses de amostragem). A incorporação de registros de diferentes períodos (banco de dados do Projeto Felinos) foi necessária para reunião de um número mais significativo de dados devido ao baixo sucesso de captura do gambá a partir do método empregado. Para análise dos dados, foram contabilizados apenas os registros independentes para evitar dupla contagem de um mesmo evento de captura. Os registros independentes foram então organizados em intervalos de uma hora para caracterização do horário de atividade. O teste do Qui-Quadrado foi empregado para comparar o número de registros obtidos entre estações (seca e chuvosa). Foram reunidos 53 registros, dos quais 26,4% (n=14) ocorreram durante a estação seca e 73,6% (n=39) na estação chuvosa, indicando que a sazonalidade influencia a atividade do gambá (X2Yates=10,868; g.l.=1; p=0,0010). A espécie esteve ativa de 18h às 04h (vetor médio=22:46h; IC95%=21:57h–23:35h), sendo classificada como noturna. Apresentou padrão de atividade bimodal, com o primeiro pico entre 19h e 20h (atividade mais intensa) e o segundo pico de 22h às 00h. Em estudo realizado no Paraná, os machos de D. aurita foram capturados em armadilhas principalmente durante a estação chuvosa, sugerindo maior atividade neste período. De forma complementar, estudo na região centro-serrana do Espírito Santo também resultou em maior sucesso de captura de D. aurita na estação chuvosa, que correspondeu ao período com maior atividade reprodutiva. Padrão semelhante poderia explicar a maior proporção de registros na estação chuvosa também na RNV, ressaltando que os indivíduos ficam mais ativos para defesa de território e busca por parceiros no período reprodutivo, o que poderia resultar no aumento do sucesso de captura por armadilhamento fotográfico. Com relação ao horário em que D. aurita está ativa, no Paraná, o sucesso de captura foi maior entre 18h e 20:30h, sendo compatível com o primeiro pico de atividade registrado na RNV. No Rio de Janeiro, D. aurita apresentou comportamento bimodal, entretanto, com maior atividade diurna e crepuscular em comparação com o registrado no presente estudo, tendo sido classificada como preferencialmente noturna. Apesar da ampla distribuição geográfica, ainda há poucos estudos sobre padrão de atividade desta espécie endêmica da Mata Atlântica, ressaltando a existência de informações que diferem entre localidades e lacunas de conhecimento. Desse modo, os resultados obtidos contribuem para delineamento e melhor compreensão do nicho temporal de D. aurita, complementando o conhecimento sobre a ecologia da espécie.

Financiamento:

Vale e FAPES (510/2016); UVV.

Área

Ecologia

Autores

Bárbara Victor Sonegheti, Thais Fernandes Bassani, Colomba Ortúzar, Alizandra Ferreira Linhares, Silvia Gabriela do Nascimento Agostinho, Gustavo da Costa Peterle, Ana Carolina Srbek-Araujo