11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

PERSONALIDADE E SINDROME DE COMPORTAMENTO EM DUAS ESPECIES DE MORCEGOS FRUGIVOROS (CHIROPTERA: PHYLLOSTOMIDAE)

Resumo:

Personalidade indica consistência, ao longo do tempo, na resposta comportamental de um indivíduo em contextos diferentes, embora a magnitude das respostas varie entre indivíduos. A influência da personalidade pode ser analisada em vários eixos, que são dimensões do comportamento animal. Esses eixos devem promover a diversidade comportamental, que pode levar à seleção de conjuntos de comportamentos correlacionados conhecidos como síndromes comportamentais. Estudos com personalidade têm importantes consequências para o entendimento de uma série de aspectos ligados à ecologia da conservação, incluindo aqueles ligados à resiliência e à degradação ambiental. Morcegos frugívoros apresentam uma grande relevância ecológica, e diversos estudos têm analisado os efeitos da degradação ambiental sobre este grupo de mamíferos. Todavia, não existem estudos que tenham determinado a existência de personalidade e síndromes de comportamento em morcegos frugívoros, dados estes que poderiam gerar importantes ferramentas para avaliar os efeitos da degradação ambiental. Neste contexto, esse estudo teve como objetivos testar se os morcegos frugívoros Artibeus lituratus e Carollia perspicillata apresentam (1) personalidades relacionadas aos comportamentos: atividade, docilidade e ousadia (2) correlação entre os eixos de personalidade analisados, constituindo síndromes comportamentais. Para cada espécie, foram capturados e analisados 27 machos adultos. Assim que retirados das redes de neblina, foram colocados em sacos de pano individualmente e mensuramos o tempo que ficavam se mexendo em 180 segundos, como teste de docilidade, assumindo que indivíduos que se mexiam por menos tempo como mais dóceis. Após esse primeiro teste, os morcegos foram mantidos em gaiolas individuais (40×40×40 cm) em câmara climática a 26 ºC e fotoperíodo 12/12 h por 2 dias para o início dos demais testes. No terceiro dia, como teste de atividade, filmamos individualmente por 30 min os animais em uma arena de 230×110×110 cm (comprimento×altura×largura), os animais que se movimentaram por mais tempo foram assumidos como mais ativos. Após esse teste, realizamos um teste do comportamento de ousadia, ofertando comida na gaiola individual e observando quanto tempo demorava para o animal começar a se alimentar com um observador a 30 cm, assumimos como mais ousados os indivíduos que levaram menos tempo para começar a comer. Todos os testes foram repetidos após 2 dias para analisar a consistência individual das respostas. Para analisar se os comportamentos estavam ligados à personalidade, realizamos testes de repetibilidade usando a função ‘rptGaussian’ no software R e testes de correlação de Pearson para analisar se apresentavam síndromes. Nossos resultados mostraram, para ambas as espécies, uma alta repetibilidade (personalidade) nos comportamentos de docilidade, atividade e ousadia. Encontramos correlações significativas para todas as combinações par-a-par das personalidades, sendo negativa entre atividade e ousadia e entre ousadia e docilidade, e positiva para atividade e docilidade, indicando a existência de síndromes comportamentais. As síndromes podem ser empregadas para avaliar a diversidade comportamental dentro das populações, sobretudo quando estão expostas a diferentes graus de perturbação ambiental, isso porque as síndromes tendem a ser importantes quando os indivíduos precisam gerar compensações, visando a conservação do comportamento natural da espécie e suas funções nos ecossistemas.

Financiamento:

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES)
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo número 2014/16320-7
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo número 2020/12211-0

Área

Ecologia

Autores

Pedro Henrique Miguel, Augusto Florisvaldo Batisteli, Ariovaldo Pereira Cruz-Neto