11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

GAMBAS, CUICAS E DOIS HELMINTOS DISCORDANTES

Resumo:

Marsupiais da família Didelphidae possuem ampla distribuição geográfica e interesse para Saúde Única (One Health), sendo hospedeiros de diversos agentes etiológicos de doenças parasitárias. Aspidodera raillieti e Cruzia tentaculata são nematódeos das famílias Aspidoderidae e Kathlaniidae, respectivamente, parasitas do ceco e do intestino grosso de diferentes espécies de didelfídeos. Presumindo que populações de parasitas podem ser influenciadas pelo ciclo de vida, especificidade, distribuição geográfica, história evolutiva, capacidade de dispersão e estrutura populacional dos hospedeiros, examinamos as estruturas populacionais de A. raillieti e C. tentaculata ao longo do bioma Mata Atlântica, um hotspot de biodiversidade. Conduzimos análises morfométricas, filogenéticas e filogeográficas com A. raillieti e C. tentaculata, parasitos de Didelphis aurita, Didelphis albiventris e Philander quica, de diferentes localidades da Mata Atlântica. Analisamos 175 espécimes de A. raillieti, de oito localidades: Cariacica-ES, Rio de Janeiro-RJ, Paraty-RJ, Petrópolis-RJ, São Gonçalo do Sapucaí-MG, Curitiba-PR, Santo Amaro da Imperatriz-SC, Porto Alegre-RS. Analisamos também 170 espécimes de C. tentaculata, de nove localidades: Santa Rita-PB, Capela-SE, São Cristóvão-SE, Conceição dos Ouros-MG, Petrópolis-RJ, Rio de Janeiro-RJ, Curitiba-PR, Ponta Grossa-PR, Porto Alegre-RS. Analisamos também larvas de C. tentaculata recuperadas dos moluscos Achatina fulica e Thaumastus taunaisii do Rio de Janeiro-RJ e Latipes erinaceus de Paraty-RJ. Tanto A. raillieti quanto C. tentaculata apresentaram maior diferenciação morfométrica entre espécimes machos recuperados de diferentes espécies hospedeiras, bem como de diferentes localidades. Nossas análises filogenéticas de sequências do gene mitocondrial citocromo oxidase I (MT-CO1) recuperaram quatro clados principais em A. raillieti e dois em C. tentaculata. Análises filogeográficas, com MT-CO1, recuperaram haplogrupos correspondentes aos clados anteriores, porém, com pouca evidência de estruturação associada às espécies hospedeiras ou localidades. Alguns grupos apresentaram assinaturas de expansão populacional recente ou seleção purificadora em testes de neutralidade. Para ambas as espécies, análises genéticas populacionais sugeriram padrões de processos evolutivos impulsionados por refúgios florestais no sul-sudeste e nordeste da Mata Atlântica, com assinatura de expansão recente para diferentes grupos. No entanto, as estruturas populacionais de A. raillieti e C. tentaculata na Mata Atlântica não foram concordantes. Dentre os fatores que podem diferenciar os padrões de estruturação populacional dessas espécies, está o ciclo de vida. A. raillieti possui ciclo monoxênico, enquanto recentemente recuperamos larvas de C. tentaculata em gastrópodes terrestres, sugerindo um ciclo de vida heteroxeno. Tal fato chama a atenção, especialmente pelo envolvimento de A. fulica como hospedeiro intermediário, molusco com alta capacidade de dispersão, presente em todas as regiões do país. Diferenças de complexidade nos ciclos de vida podem produzir respostas distintas a eventos climáticos. A estrutura genética das populações de A. raillieti e C. tentaculata na Mata Atlântica resultou de eventos históricos e não da distribuição geográfica atual ou especificidade ao hospedeiro. Eventos pretéritos, como glaciações, podem explicar estruturas genéticas como as encontradas em A. raillieti e C. tentaculata. Porém, discrepâncias entre os padrões encontrados parecem ser explicadas pelos ciclos de vida diferentes. Variação morfométrica, associada às espécies e localidades hospedeiras, sugeriram plasticidade fenotípica aos atributos do hospedeiro e às variáveis espaciais. Revisões taxonômicas integrativas em ambas as espécies podem ainda revelar complexos de espécies.

Financiamento:

Este estudo recebeu financiamento do Instituto Oswaldo Cruz, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC / Fiocruz).

Área

Parasitologia/Epidemiologia

Autores

Roberto do Val Vilela, Jucicleide Ramos de Souza, Karina Varella , Renata Pereira de Souza, Arnaldo Maldonado Júnior