11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

A OBSTRUÇAO HORIZONTAL DA VEGETAÇAO COMO CONDUTORA DE CO-OCORRENCIA PREDADOR-PRESA NA FLORESTA ATLANTICA

Resumo:

A estrutura da vegetação é uma determinante chave nas taxas de predação e no comportamento de predador- presa. Habitats complexos tendem a dificultar o deslocamento das espécies de maior porte e a visualização de presas. Logo, prevemos que Leopardus pardalis e Puma concolor estão mais associados à áreas com menor Obstrução horizontal da Vegetação (OhV), assim como suas presas de maior porte. Utilizamos dados de armadilhas fotográficas coletados em 27 áreas em Santa Catarina (2005-2021). Consideramos as variáveis preditoras: predadores, presas, competição interespecífica, estação climática, Estágio de Sucessão Vegetacional (ESV, floresta secundária = maior obstrução e floresta primária = menor obstrução) e a covariável esforço de amostragem. Para analisar a influência das presas e da OhV sobre a presença dos predadores, usamos uma Análise de Equação Estrutural (AEE). As AEEs entre predadores e presas, foram geradas independentemente com suas variáveis preditoras. Na Floresta Ombrófila Densa (FOD), a presença de L. pardalis foi positivamente influenciada por P. concolor (Variância Explicada [VE] = 0.33), enquanto P. concolor, foi negativamente influenciado por Dycotyles tajacu (VE = -0.11). Houve uma relação negativa entre Mazama spp. e P. concolor, mas foi positiva para L. pardalis (VE = -0.30 e VE = 0.28). Na Floresta Ombrófila Mista (FOM), Leopardus pardalis foi positivamente influenciado por D. tajacu e pelo outono e inverno (VE = 0.08 e VE = -0.14). Ao passo que, Dicotyles tajacu foi positivamente influenciada por L. pardalis e pela menor OhV na FOM (VE = 0.08 e VE = 0.05). Na FOM, a relação negativa entre P. concolor e D. tajacu e Mazama spp. pode ser explicada pelo controle populacional que este predador tem sobre suas presas, além do efeito do medo exercido. Leopardus pardalis tende a mudar seu nicho temporal, bem como, consumir presas de menor porte na presença de P. concolor, explicando assim sua maior atividade em áreas com maior presença de D. tajacu. Isso se aplica também à relação de L. pardalis e D. tajacu na FOM. Esse mesopredador, além de ter relação positiva com sua presa, ocorreu mais nas estações climáticas em que há menor OhV, no outono e inverno. É importante ressaltar que a relação positiva que D. tajacu teve com L. pardalis e com a menor OhV, indica uma relação indireta desse tipo de estrutura da vegetação com o mesopredador. Logo, Leopardus pardalis, assim como D. tajacu, ambos com tamanhos médios, tendem a ocupar áreas com menor OhV, corroborando, em parte, com nossas hipóteses. Por P. concolor ter um maior tamanho corporal e área de vida, e utilizar, normalmente, trilhas, a OhV pode não ter um efeito significativo sobre seu deslocamento, distribuindo-se igualmente entre a floresta secundária e primária, em busca de presas de médio e grande porte. Concluímos que mudanças na estrutura da vegetação através da conversão de floresta primária em secundária podem influenciar espécies de predadores e presas. É indispensável a preservação de florestas primárias para a permanência, principalmente, de L. pardalis, e presas de médio porte.

Estágio de sucessão vegetacional, Leopardus pardalis, Puma concolor

Financiamento:

Paula D. Ribeiro-Souza é bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Houve apoio logístico e de equipamentos de campo por parte do 1) Projeto Fauna Floripa, parceria entre a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (FLORAM), o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA-SC) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); 2) Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) rede Mata Atlântica (CNPq 457451/2012-9) e CNPq/Capes/FAPs/BC-Fundo Newton/PELD nº 15/2016. 3) Reserva São Francisco; e 4) Reserva Araponga. Juliano A. Bogoni é apoiado pelas bolsas de pós-doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) nº 2018-05970-1 e nº 2019-11901-5.

Área

Ecologia

Autores

Paula Ribeiro-Souza, Maurício Eduardo Graipel, Barbara Lima-Silva, Micheli Ribeiro Luiz, Bruna Nunes Krobel, Juliano A Bogoni, Luana Reis Lucero, José Salatiel Rodrigues Pires