Dados do Trabalho

Título:

INFLUENCIA DE ATRIBUTOS DA PAISAGEM E DE ESPECIES CONGENERES ALOCTONES NA OCORRENCIA DE CALLITHRIX AURITA (PRIMATES: CALLITRICHIDAE) EM SUA AREA DE DISTRIBUIÇAO

Resumo:

Os primatas neotropicais compõem um grupo com alta riqueza de espécies, diversidade morfológica e comportamental. Apesar disso, grande parte dessas espécies se encontram vulneráveis em termos de conservação. O sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita) é considerado uma das 25 espécies de primatas mais ameaçadas do mundo, principalmente devido à fragmentação, perda de habitat, hibridação e competição causada pela introdução de espécies congêneres alóctones. Sua conservação é agravada por se tratar de uma espécie endêmica de Mata Atlântica, bioma que se encontra reduzido em apenas 12,4% em relação a sua área original. Utilizando dados de ocorrência da espécie publicados em dois data papers, selecionamos 46 fragmentos dentro da área de distribuição conhecida para a espécie, sendo 23 com a ocorrência confirmada e 23 sem a ocorrência confirmada de C. aurita. Avaliamos então se a ocorrência da espécie seria influenciada pelo tamanho do fragmento, pela distância mínima entre o fragmento e fragmentos com presença de espécies alóctones, pela altitude do fragmento, pela conectividade do fragmento e pela porcentagem de tipos de matriz circundante. Usando a estratégia de seleção de modelos a partir de todas as combinações aditivas possíveis entre as variáveis de interesse, o que nos permitiu criar um conjunto balanceado de modelos, interpretamos o peso cumulativo de AICc (w+) de cada uma delas, sendo que consideramos as variáveis preditoras com w+ ≥ 0,50 como as determinantes por influenciar a ocorrência de C. aurita. Ao todo, foram obtidos 326 registros do gênero Callithrix, sendo 29 registros de C. aurita, 95 de C. penicillata e 202 de C. jacchus, sendo as duas últimas espécies alóctones. O estado do Rio de Janeiro concentrou o maior número de registros de espécies alóctones (150), seguido de São Paulo (105) e Minas Gerais (42). A partir dos w+ das variáves preditoras extraídas dos 1093 modelos construídos, a distância mínima para fragmentos com C. jacchus (w+ = 0,94) e a porcentagem de matriz de áreas não vegetadas (w+ = 0,59) correlacionaram negativamente com a ocorrência de C. aurita. Por outro lado, a porcentagem de matriz de mosaico de agricultura e pastagem (w+ = 0,61) e a porcentagem de matriz de formação savânica (w+ = 0,59) correlacionaram positivamente com a ocorrência de C. aurita. Nossos achados nos permitem inferir que C. aurita se encontra isolado em fragmentos cercados em grande parte por matrizes de áreas abertas, pouco favoráveis à sua movimentação. Além disso, a espécie se encontra próxima a populações de C. jacchus, uma espécie mais generalista e invasora, o que aumenta a chance de hibridação e introgressão genética. Com isso, atesta-se a importância de manejar a paisagem circundante aos fragmentos de floresta nativa, assim como as espécies congêneres alóctones para a conservação de C. aurita. Por fim, acreditamos que esta abordagem possa ser replicada a fim de melhorar o entendimento sobre a conservação de outras espécies ameaçadas, como C. flaviceps, que se trata de uma espécie de sagui também endêmica da Mata Atlântica e que enfrenta desafios semelhantes.

Palavras-chave: Sagui-caveirinha, hotspot, invasão biológica, espécie exótica, uso e ocupação do solo.

Financiamento:

CAPES

Área

Ecologia