11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

FOBIA LUNAR EM MAMIFEROS: REVISAO DO CONHECIMENTO

Resumo:

Algumas espécies reduzem a atividade em noites claras ou áreas abertas iluminadas, representando uma estratégia anti-predação denominada fobia lunar. O presente trabalho apresenta revisão do conhecimento sobre fobia lunar em mamíferos visando identificar fatores que influenciam a resposta à iluminação lunar. Foi realizada busca por artigos científicos em plataformas digitais (Scielo e Google Acadêmico), considerando diferentes palavras-chave (atividade, ciclo lunar, fobia lunar, mamífero e luz da lua) e três idiomas (inglês, espanhol e português). Foi caracterizada a distribuição temporal e geográfica dos estudos e avaliada a presença/ausência de fobia lunar em relação à taxonomia, tamanho corporal, dieta e bioma. Foram selecionados 122 artigos, abrangendo 273 espécies categorizadas em infraclasse (n=2), ordem (n=12) e família (n=49). Os artigos foram publicados entre 1978-2020, com aumento significativo do interesse sobre o tema ao longo do tempo. A América do Sul representou a região mais estudada (24,6% dos trabalhos; 35,5% das espécies). O bioma mundial mais investigado foi Floresta Úmida Tropical e Subtropical (34,8% dos artigos; 58,4% das espécies) e no Brasil foi Amazônia (38,9% dos trabalhos; 81,2% das espécies). Não foram detectados estudos com a Subclasse Prothoteria. Para a Subclasse Theria, a Infraclasse Placentalia foi a mais estudada (n=254 espécies; 93,0% / Infraclasse Marsupialia: n=19; 7,0%). As ordens mais investigadas foram Chiroptera (64,1% das espécies) e Rodentia (14,3%). A maior parte das espécies não apresentou fobia lunar (61,9%; χ²Yates=15,004; g.l.=1; p=0,0001), embora a proporção de espécies com o comportamento tenha sido diferente entre as infraclasses (GYates=6,4151; g.l.=1; p=0,0113). Apesar de 68,4% dos Marsupialia terem apresentado fobia lunar, não houve diferença na resposta dentro do grupo (χ²Yates=1,895; g.l.=1; p=0,1687). Para os Placentalia, a fobia lunar ocorreu em 35,8% das espécies, indicando menor ocorrência do comportamento no grupo (χ²Yates=19,846; g.l.=1; p<0,0001). A fobia lunar foi menos registrada em espécies de grande (13,3%; χ²Yates=6,667; g.l.=1; p=0,0098) e pequeno porte (37,2%; χ²Yates=14,376; g.l.=1; p<0,0001). Para táxons de médio porte, os valores foram similares (presença=56,3%; χ²Yates=0,281; g.l.=1; p=0,5959). A resposta foi variável comparando as três categorias de tamanho entre si (GWilliams=8,7104; g.l.=2; p=0,0128). A presença de fobia lunar foi menos significativa para espécies com dieta animal (23,6%; χ²Yates=33,301; g.l.=1; p<0,0001), não havendo diferença para espécies com dieta mista (presença=47,1%; χ²Yates=0,078; g.l.=1; p=0,7794) e vegetal (presença=52,9%; χ²Yates=0,04; g.l.=1; p=0,8407). Quando comparadas as três dietas em conjunto, a resposta foi variável (GWilliams=20,6109; g.l.=2; p<0,0001). A proporção de espécies com fobia lunar diferiu entre biomas (GWilliams= 49,4820; g.l. = 12; p <0,0001), sendo os não-florestais aqueles que apresentaram mais espécies com fobia lunar. Embora mamíferos apresentem fobia lunar, a expressão deste comportamento foi detectada em menos da metade das espécies estudadas, com menor proporção em espécies com dieta animal e de pequeno ou grande porte, indicando resposta influenciada por fatores biológicos e características ambientais. Esta representa a primeira revisão sobre fobia lunar em mamíferos e contribuiu para o entendimento deste comportamento, bem como de sua representatividade no grupo. Um melhor detalhamento das características ambientais (porcentagem de iluminação e cobertura vegetal) é recomendo em estudos futuros para melhor avaliação do tema.

Financiamento:

Área

Ecologia

Autores

Fernanda Pavesi Tannure, Ana Carolina Srbek-Araujo