11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

O BRASIL TEM POTENCIAL PARA PANDEMIAS? UMA AVALIAÇAO DA VULNERABILIDADE SOCIOECOLOGICA E DO RISCO DE SURTOS DE ZOONOSES

Resumo:

Os surtos de doenças zoonóticas são resultado de processos ecológicos, socioeconômicos e demográficos complexos. Esses processos moldam as condições para ocorrência de maior contato entre a população humana vulnerável e a vida selvagem em áreas submetidas a degradação ambiental, e de uma rápida disseminação de infecções em regiões socialmente vulneráveis. Aumentos nas vulnerabilidades ambientais e sociais no Brasil, amplificadas por crises econômicas e políticas, são potenciais gatilhos para surtos. Utilizando dados disponíveis de nove zoonoses entre 2001 e 2019, discutimos as características que favorecem surtos no Brasil e demonstramos um novo método quantitativo para avaliação de riscos zoonóticos, empregando-o em uma análise dos estados brasileiros. Nesse método, utilizamos modelos de equações estruturais para identificar os componentes relevantes de exposição, vulnerabilidade, e capacidade de enfrentamento, e quantificar sua influência no número de casos de zoonoses em cada estado. Nosso método atribuiu nível de risco alto a seis estados da região Norte (Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Amazonas e Maranhão) e um estado do Centro-Oeste (Mato Grosso). Esses estados se inserem na Floresta Amazônica, apresentam os níveis mais baixos de arborização urbana, as maiores riquezas de mamíferos e os maiores níveis de afastamento entre cidades. O grupo de alto risco também inclui os estados com maior cobertura vegetal (Amazonas) e maior perda de vegetação (Mato Grosso). Baixo risco foi atribuído a oito estados do Nordeste (Mata Atlântica e Caatinga) e Sul (Mata Atlântica e Pampa). Os estados com menores riscos zoonóticos apresentam baixos níveis de cobertura e de perda de vegetação natural, ausência de cidades remotas, e níveis mais elevados de arborização das cidades. A maioria dos estados teve o nível de risco médio atribuído (12 estados), apresentando valores intermediários de todas as variáveis. Além da análise de risco, e considerando a conexão entre as zoonoses e o consumo de proteína de animal, entendemos que a atividade de caça é uma das principais vias de contato humano-animal, e uma forma de compreender o potencial dos parasitas circulantes, visto que a atividade é realizada em todo o país, apesar de ilegal (exceto povos tradicionais e manejo de javalis). Buscamos identificar quais mamíferos comumente caçados são mais centrais na meta-rede de interações parasito-hospedeiro em escala de país. Os protozoários Leishmania spp. e Trypanosoma spp. são os parasitas mais centrais da meta-rede, infectando uma alta diversidade de espécies hospedeiras. As espécies hospedeiras compartilhadas pelo maior número de parasitos são Cerdocyon thous, gambás periurbanos (Didelphis spp.), e tatus Dasypus spp. Sapajus apella, no entanto, hospeda exclusivamente a maioria dos vírus de febre hemorrágica. Embora haja um provável viés de amostragem para espécies mais abundantes, espécies hospedeiras topologicamente centrais representam sentinelas cujo monitoramento e vigilância podem melhorar o rastreamento de eventos de transbordamento. Acreditamos que o maior desafio atual seja coordenar a colaboração intersetorial para um gerenciamento de saúde eficaz em países de megadiversidade com alta vulnerabilidade social e crescente degradação ambiental, como o Brasil.
Palavras-chave: análise de risco, fatores ecológicos, fatores socioeconômicos, doenças zoonóticas.

Financiamento:

SinBiose/CNPq

Área

Ecologia

Autores

Gisele Winck, Rafael Raimundo, Hugo Fernandes-Ferreira, Marina Galvão Bueno, Paulo D'Andrea, Fabiana Lopes Rocha, Gabriella Cruz, Emmanuel Vilar, Martha Brandão, José Luis Cordeiro, Cecilia Andreazzi