11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

VARIAÇAO GEOGRAFICA DOS PELOS ARISTIFORMES EM TRINOMYS ALBISPISNUS (RODENTIA, ECHIMYIDAE): INFLUENCIA DE FATORES ESPACIAIS, CLIMATICOS E TOPOGRAFICOS.

Resumo:

Trinomys Thomas, 1921 compreende 10 espécies de ratos-de-espinho cursoriais endêmicas do leste do Brasil, com notável variação inter- e intraespecífica na composição da pelagem, especialmente na morfologia dos pelos aristifomres, chamados comumente de espinhos. A maioria das espécies de Trinomys possui distribuição limitada a condições climáticas e vegetacionais estreitas. Por outro lado, Trinomys albispinus, com duas subespécies, é uma das exceções a esse padrão, apresentando ampla distribuição geográfica ao longo dos estados de Sergipe, Bahia e Minas Gerais, ocorrendo em mais de um bioma (Mata Atlântica, Caatinga e áreas de transição com Cerrado), do nível do mar a cerca de 1200 metros de altitude. Diante disso, podemos levantar pelo menos duas hipóteses para explicar a variação geográfica na morfologia dos pelos aristiformes em T. albispinus: i) a distância geográfica entre as populações, ou ii) as variáveis climáticas e topográficas podem constituir o principal fator estruturando a variação morfológica. Para testar essas hipóteses, foram medidos comprimento e largura máxima de pelos meio-dorsal de 167 espécimes de 27 localidades (de 10º30’S a 18º14’S e de 37º45’O a 44º15’), com um paquímetro digital de acurácia de 0,01mm. As médias de cada localidade foram utilizadas nas análises subsequentes. As altitudes e as 22 variáveis climáticas dessas localidades foram obtidas a partir do banco de dados do WorldClim em uma escala de 5 minutos. Inicialmente foi testada a dependência da distância geográfica por meio de testes de autocorrelação espacial, estimando-se o índice I de Moran. Investigamos a colinearidade entre as variáveis climáticas e a altitude, e subsequentemente foram removidas as variáveis redundantes (r > 0,7). Com as variáveis remanescentes foram construídos 67 e 130 modelos lineares explicativos para a variação no comprimento e largura do pelo, respectivamente, os quais foram selecionados a partir da variação nos critérios de informação de Akaike. O teste de autocorrelação espacial mostrou leve, porém significativa estruturação espacial no comprimento dos pelos aristiformes, sugerindo alta similaridade morfológica dentro de um raio de até 180 km. O mesmo não foi reportado para a largura. As seleções de modelos mostraram que a temperatura do trimestre mais seco foi a variável que melhor explicou a variação no comprimento dos pelos (r = -0,704), enquanto a largura foi mais bem explicada pela altitude (r = -0,567). Estas duas variáveis mostram capacidade explicativa ao menos duas vezes maior que a latitude e a longitude. Nossos resultados primeiramente sugerem que o clima tem influência mais forte sobre a morfologia do pelo do que a distância geográfica. Além disso, os resultados mostram que em altas elevações e baixas temperaturas, T. albispinus apresenta aristiformes mais alongados e finos que em regiões de baixas elevações e altas temperaturas. Correlação similar entre pelo alongado e baixas temperaturas ambientais, favorecendo eficiente isolamento térmico, pode ser observada em mamíferos que habitam climas temperados e polares. Esses resultados ajudam a compreender as relações entre mamíferos que habitam regiões tropicais e seus climas, uma vez que poucos estudos existem sobre esse tema em comparação com mamíferos de climas temperados e polares.

Financiamento:

Área

Anatomia e Morfologia

Autores

André Luiz Luiz Liberato Barbosa, William Corrêa Tavares, Leila Maria Pessôa