11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

A INFLUENCIA DO TURISMO NO USO DE HABITATS POR MAMIFEROS DE MEDIO E GRANDE PORTE EM UMA AREA PROTEGIDA

Resumo:

A atividade turística, se não for bem planejada, pode afetar negativamente a fauna. Utilizamos armadilhas fotográficas e modelos de ocupação para, primeiramente, avaliar as variáveis que poderiam influenciar as probabilidades de ocupação (Ψ) e detecção (p) dos turistas na RPPN Santuário do Caraça (RPPNSC), em Minas Gerais, que recebe em média 70.000 visitantes por ano. Nenhuma das variáveis avaliadas influenciou Ψ, que foi alta para a RPPNSC (Ψ = 0.82; IC 95% = 0.64-0.92). Porém, p foi maior nas trilhas com visitação livre (i.e., sem a necessidade de guias), em trilhas com corpos d’água (i.e., cachoeiras, poços etc.), nas trilhas mais curtas e nos períodos menos chuvosos. Acreditamos que as trilhas menores e de livre acesso sejam mais utilizadas pelos turistas por serem mais fáceis e sem custos. Do mesmo modo, algumas características parecem atrair mais os turistas, como a presença de cachoeiras nas trilhas e dias mais ensolarados, justificando uma maior detecção deles nestas localidades e período do ano, respectivamente. Utilizando as variáveis que influenciaram p, construímos uma variável referente a frequência de uso das localidades amostradas por turistas para modelar os parâmetros Ψ de nove espécies de mamíferos. Para modelar a detecção dos mamíferos, utilizamos o número de registros de turistas em cada ocasião de amostragem. Ψ do cachorro-do-mato, do veado e da anta correlacionaram positivamente com uma maior frequência de turistas. Adicionalmente, a onça-parda e o tapiti foram mais detectados nas localidades com mais turistas, mas o cachorro-do-mato apresentou um padrão diferente, sendo menos detectado nestas localidades. Como as localidades mais visitadas pelos turistas foram aquelas com mais corpos d’água, acreditamos que essas espécies também utilizem estas localidades por elas terem um maior potencial de recursos disponíveis. Além do mais, as espécies apresentaram um hábito mais noturno e, portanto, segregaram temporalmente com os turistas. Entretanto, o cachorro-do-mato foi menos detectado em localidades com mais turistas e das espécies noturnas, ele foi a que apresentou mais registros diurnos, o que pode sugerir que apesar de ocupar estas localidades, ele as usa com menos frequência para evitar uma sobreposição com os turistas no período diurno. Vimos que os parâmetros Ψ e p, com exceção do cachorro-do-mato, não foram influenciados negativamente pela frequência e número de turistas. Em alguns casos, Ψ e p foram até mesmo influenciados positivamente, indicando que as localidades são usadas por turistas e por espécies nativas. Apesar da maioria das espécies segregarem temporalmente com os turistas, é necessário que existam estratégias bem direcionadas para a visitação dos turistas na RPPNSC, de modo que esta atividade não ameace as espécies, seja por interferência direta ou indireta. Como exemplo, o cachorro-do-mato, está sendo menos detectado nas localidades com mais turistas e isso pode alterar o seu deslocamento e consequentemente outros aspectos, como reprodução e a busca por recursos alimentares. Acreditamos que a ferramenta utilizada nesse estudo possar servir como norteadora de estratégias de manejo da visitação turística em outras Unidades de Conservação, de modo a contribuir com um turismo sustentável.
Palavras-chave: mastofauna, conservação, ecoturismo, uso do espaço.

Financiamento:

Fapemig, Capes e CNPq

Área

Conservação

Autores

Marcela Frias Barreto, Ana Maria Oliveira Paschoal, Rodrigo Lima Massara, Ludmila Hufnagel Regis Diniz Maia, Lucas Neves Perillo, Adriano Pereira Paglia