11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

UMA ANALISE MORFOMETRICA DO ESQUELETO APENDICULAR DE BRASILODON QUADRANGULARIS (CYNODONTIA, PROBAINOGNATHIA) DO TRIASSICO SUPERIOR DO RIO GRANDE DO SUL, TAXON-IRMAO DE MAMMALIAFORMES

Resumo:

Para Mammaliaformes mesozoicos é bem estabelecido que a morfologia pós-craniana pode ser usada para predizer hábitos locomotores e modos de vida, o que revelou uma surpreendente disparidade morfológica já no Jurássico, com ampla ocupação do morfo/ecoespaço por formas terrestres generalistas, semiaquáticas, semifossoriais, fossoriais, escansoriais, arborícolas e até planadoras. Entretanto, pouco ainda se conhece sobre os modos de vida de seus antecessores, os cinodontes não-mamaliaformes do Clado Probainognathia. O pequeno probainognátio Brasilodon quadrangularis (comprimento craniano entre 20 e 55 mm), do Triássico superior (~225 milhões de anos atrás) do atual Rio Grande do Sul, é considerado o táxon-irmão de Mammaliaformes e oferece uma oportunidade única para estudos morfoanatômicos pós-cranianos, viabilizando inferências acerca dos hábitos locomotores mais prováveis durante a transição cinodonte-mamífero. Assim, o objetivo do presente trabalho foi quantificar e buscar explicação para a variação morfológica encontrada no esqueleto apendicular de B. quadrangularis, a fim de identificar seu modo de vida. Para isso, foi utilizado o protocolo multivariado de Chen & Wilson (2015), que se mostrou eficiente em estimar hábitos locomotores em Mammaliaformes mesozoicos. O protocolo consiste em: (1) usar índices morfométricos (razões) com informações de diferentes elementos do esqueleto apendicular de 107 espécies de mamíferos viventes para “treinar” uma análise discriminante linear; (2) Funções discriminantes resultantes são usadas para indicar os possíveis hábitos locomotores da espécie analisada. Na análise incluindo B. quadrangularis, índices com medidas faltantes devido à má preservação foram excluídos. Os resultados indicaram que B. quadrangularis teria hábito semifossorial com alta probabilidade posterior (99,56%). Para ter certeza de que a postura não influenciou os resultados, a análise foi novamente rodada excluindo índices referentes à crista deltopeitoral do úmero. Essa estrutura pode indicar capacidade de escavação em mamíferos, porém em todos os cinodontes não-mamaliaformes ela tende a ser bem desenvolvida em função da postura semi-aduzida. A análise sem a crista deltopeitoral também indicou hábito semifossorial como o mais provável, porém com probabilidade posterior menor (74,96%), e hábito semiaquático como o segundo mais provável (18,28%). De acordo com Chen & Wilson (2015), os índices que melhor separam esses hábitos seriam os referentes aos dígitos da mão e à pélvis, características não conhecidas para Brasilodon. Porém, o hábito semifossorial aqui inferido é suportado por altas probabilidades posteriores e análises qualitativas, já o semiaquático parece improvável, visto que nenhuma linha de evidência apontou nesta direção até agora. A incompletude do registro fossilífero (e incerteza associada) é uma limitação de todos os estudos paleontológicos, porém os resultados preliminares obtidos para B. quadrangularis indicam que o seu esqueleto pós-craniano é mais similar ao esqueleto de mamíferos de hábito semifossorial. Mesmo que um hábito generalista não possa ser descartado, o pequeno cinodonte provavelmente já tinha capacidade de escavar tocas nesse momento chave da transição cinodonte-mamífero.

Financiamento:

CAPES; FAPERJ

Área

Paleontologia

Autores

João Felipe Leal Kaiuca, William Corrêa Tavares, Marina Bento Soares