11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

EFEITOS DA DIVERSIDADE FLORISTICA SOBRE A DIETA DA PREGUIÇA-DE-COLEIRA (BRADYPUS TORQUATUS ILLIGER, 1811)

Resumo:

A diversidade de recursos alimentares no ambiente pode afetar a diversidade e a similaridade da dieta de indivíduos de uma espécie. Estes efeitos, assim como outros aspectos da ecologia alimentar da preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus Illiger, 1811), ainda necessitam ser estudados. A preguiça-de-coleira é um mamífero estritamente folívoro, ameaçado e endêmico da Mata Atlântica, onde grande parte dos fragmentos florestais vem perdendo sua diversidade florística. Como espécie, as preguiças são consideradas generalistas, uma vez que são capazes de se alimentar de uma ampla gama de espécies vegetais, enquanto os indivíduos são considerados especialistas e altamente seletivos, pois concentram sua dieta em conjuntos de espécies pequenos e que variam entre si. É possível que tal variação da dieta individual previamente reportada seja resultante de uma seleção alimentar diferenciada entre indivíduos, ou da dissimilaridade da composição florística disponível em suas áreas de vida. Ainda, é esperado que a redução da diversidade de árvores no ambiente provoque uma redução na diversidade da dieta e uma maior sobreposição da dieta de indivíduos, dada a menor disponibilidade de espécies vegetais propícias para servirem como recurso alimentar. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi: avaliar a composição e seleção alimentar da preguiça-de-coleira em duas regiões de ocorrência da espécie ainda não estudadas; testar se a dissimilaridade da dieta entre indivíduos e populações é explicada por mudanças nas composições florísticas locais e/ou por uma seleção diferenciada de espécies vegetais; e avaliar o efeito da diversidade florística do ambiente sobre a diversidade e similaridade da dieta de indivíduos. Foram monitorados 13 indivíduos por radiotelemetria, e acessadas a disponibilidade e diversidade de espécies de árvores em cada área de vida. Foram identificadas 67 espécies de árvores compondo a dieta das preguiças, sendo a maior parte destas (84,4%) selecionadas, participando da dieta em maior proporção do que sua disponibilidade no ambiente. A dissimilaridade da dieta individual e populacional foi na maior parte explicada por diferenças na composição florística local, embora a seleção individual diferenciada também tenha contribuído. Em floresta menos diversa, indivíduos apresentaram uma maior seleção compartilhada para algumas espécies de plantas, tornando suas dietas mais similares, revelando recursos-chaves (espécies altamente consumidas e preferidas pela população) para serem usados em ações de conservação. A diversidade florística do ambiente exerceu efeito negativo sobre a similaridade das dietas individuais, mas não na diversidade e riqueza de espécies de árvores consumidas por indivíduo. Juntos, os resultados indicam que as preguiças são seletivas em nível populacional e individual, especialistas em nível individual (baixa amplitude de suas dietas independente da diversidade florística) e a diversidade florística media a similaridade das dietas individuais. Por fim, apresentamos espécies de plantas que podem ser importantes para esta espécie ameaçada da Mata Atlântica e para o planejamento de ações de conservação.

Financiamento:

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), PETROBRÁS, Concessionária Litoral Norte. Apoio logístico e de infraestrutura: Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Associação Mico-Leão Dourado, Instituto Tamanduá, e Prefeitura de Mata de São João - BA.

Área

Conservação

Autores

Laila Santim Mureb, Larissa Rocha Santos, Camila Righetto Cassano, Gabriel da Silva Lopes, Carlos Ruiz Miranda, Flávia Regina Miranda, Gastón Andrés Fernandez Giné