11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

ASPECTOS DA CAÇA E CONSUMO DA FAUNA SILVESTRE NO ENTORNO DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA.

Resumo:

O Parque Nacional Serra Capivara (PNSC) abriga grandes porções de áreas conservadas da Caatinga Piauiense, constituindo assim, um importante refúgio para a fauna regional. Entretanto, essa Unidade de Conservação (UC) sofre fortes pressões antrópicas, sendo a caça predatória a principal ameaça à fauna local. Assim, este estudo teve como objetivo identificar as espécies-chave alvo de caçadores e os aspectos gerais da caça. A coleta de dados ocorreu entre os meses de maio de 2019 e janeiro de 2020 no município de São Raimundo Nonato, Piauí. Os dados foram obtidos por meio de questionários, complementados com entrevistas livres e conversas informais. Entrevistamos 62 caçadores/ex caçadores de comunidades rurais e periurbanas situadas no entorno do PNSC. Os entrevistados foram selecionados de maneira oportunista e com auxílio da técnica “bola de neve”. A pesquisa foi aprovada em comitê de ética (UFPI) antes da execução (CAAE 47887015.9.0000.5214). Estatística descritiva foi utilizada para determinar a importância de cada táxon. Os entrevistados relataram 36 táxons explorados como carne de caça, destes, os mamíferos foi o grupo mais representativo (n=17 spp.). As espécies mais importantes em número de citações foram o tatu-verdadeiro Dasypus novemcinctus (n = 57; 91,94%), tatu-peba Euphractus sexcinctus (n = 45; 72,58%), tatu-china Dasypus septemcinctus (n = 31; 50%), tatu-bola Tolypeutes tricinctus (n = 30; 48,39%) e o caititu Pecari tajacu (n = 30; 48,39%). A prática da caça foi reportada como uma atividade preferencialmente noturna (n = 39 entrevistados, 62,90%), com frequência de 4 vezes ou mais ao mês (n = 31; 50%). As principais técnicas de caça localmente empregadas para captura ou abate dos animais são o uso de cães domésticos (n = 53; 85,48%), espingarda (n = 33; 53,23%) e jequi (n = 20; 32,26%). O comércio da carne de caça na região é complexo, envolvendo diferentes atores: caçadores, atravessadores, donos de bares, restaurantes, mercadinhos e consumidores finais. Dasypus novemcinctus (n = 47; 75,26%), o Veado-mateiro Mazama americana (n = 13; 20,97%) e o Veado-comum Mazama gouazoubira (n = 13; 20,97%) são as espécies mais comercializadas na região. Os animais podem ser vendidos inteiros ou por quilograma. O espécime inteiro de tatu-verdadeiro varia entre R$80,00 a R$100,00 podendo chegar até em R$120,00. Já Mazama spp. é vendido entre R$15,00 a R$18,00 o quilograma. Nossos dados demonstram uma riqueza de táxons superior a outros estudos realizados no Nordeste brasileiro. Mesmo em um cenário de fiscalizações constantes a caça persiste em caráter altamente clandestino e com uma cadeia de comércio dinâmica. Somado a isso, fatores como o crescimento da área urbana, a fiscalização rigorosa e a ascensão de pessoas com melhor poder aquisitivo elevou o preço da carne de caça transformando-a em um produto de alto valor comercial. Diante do cenário apresentado, medidas devem ser adotadas visando mitigar a exploração dos animais silvestres. Portanto, pesquisas que busquem entender os fatores socioeconômicos e ecológicos que se relacionam com a caça e programas de educação ambiental para sensibilizar a população devem ser implementados, assim como a manutenção das fiscalizações ambiental.

Financiamento:

FAPEPI (Edital PPP/MCT/CNPq N. 007/2018, Protocolo projeto 5481.UNI253.58391.15052018); CAPES

Área

Etnozoologia

Autores

LUCRECIA LUCRECIA DOS SANTOS, FELIPE SILVA FERREIRA, WEDSON MEDEIROS SILVA SOUTO