11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

O MUNDO DEFAUNADO DAS GAIOLAS DE EXCLUSAO DE MAMIFEROS: UMA PROVA DE CONCEITO

Resumo:

Estudos que tentam entender as consequências da defaunação para a biodiversidade e processos biológicos associados têm sido realizados com a utilização de diversas metodologias. Uma abordagem útil nesse contexto são os experimentos manipulativos utilizando gaiolas de exclusão, que consistem em cercar uma ou várias áreas para reduzir ou impedir o acesso de mamíferos herbívoros de tamanhos variados e, dessa forma, controlar os processos mediados por eles. No entanto, a redução ou exclusão dos herbívoros é frequentemente um pressuposto desses estudos ao invés de ser mensurada. Além disso, outros grupos de animais que desempenham funções ecológicas igualmente importantes também podem ser excluídos nesses tratamentos. Neste contexto, objetivou-se avaliar como será alterada a riqueza, composição e a biomassa de vertebrados terrestres excluídos pelas gaiolas de exclusão em uma floresta de terra firme na Amazônia. Para isso, instalamos 11 blocos experimentais com três tipos de tratamentos cada: exclusão total de vertebrados terrestres de médio e grande porte, exclusão parcial de vertebrados terrestres de grande porte (e.g. porcos-do-mato, veados e anta), e controle (sem exclusão). O monitoramento ocorreu em novembro de 2021 na Floresta Nacional do Tapajós, Santarém-PA, Brasil. Quinze armadilhas fotográficas foram programadas para gravar vídeos em 5 dos 11 blocos durante 41 dias. As imagens foram consideradas independentes em um intervalo > 30 min. O número de registros foi calculado pelo somatório de observações independentes para cada espécie em cada tratamento experimental. A biomassa por espécie foi obtida a partir do número de registros multiplicado pela massa corporal média. As espécies foram descritas e agrupadas em 9 guildas: aves-A, insetívoros-I, marsupiais-M, onívoros-O, pequenos felinos-PF, predadores de topo-PT, roedores grandes-RG, roedores pequenos-RP e ungulados-U. Para comparar a riqueza de espécies entre os tratamentos experimentais, foram produzidas curvas de rarefação. Um esforço amostral de 615 armadilhas-dia resultou em 193 registros independentes, sendo 108 para mamíferos (12 espécies) e 85 para aves (4 espécies). Encontramos diferença de riqueza de espécies entre os tratamentos: exclusão total 3 (2,3±3,7 espécies), exclusão parcial 9 (7,1±10,9 espécies) e controle 16 (11,6±20,4 espécies) (p<0,05). No tratamento exclusão total registramos apenas dois grupos (RP=8 e M=10 registros), para o tratamento exclusão parcial registramos RP=9, RG=3, M=27, I =1 e A=16 e para o tratamento controle registramos: RP=10, RG=6, M=20; I=1, A=69, PT=2, U=8, O=1 e PF=1. A biomassa de vertebrados total registrada no tratamento “controle” (424 kg) foi 8 vezes maior do que no tratamento “exclusão parcial” (53,8 kg) e 81 vezes maior do que no tratamento “exclusão total” (5,23 kg). Ungulados corresponderam a 45% da biomassa de tratamento controle, 21,7% foram de predadores de topo e 18% de aves. Nossos resultados evidenciam que as gaiolas de exclusão agem eficientemente impedindo a entrada de vertebrados de várias espécies, tamanhos e guildas alimentares, sendo capazes de simular distintos graus de defaunação. Florestas que seguirem esses padrões de defaunação terão perda de interações e de importantes funções ecológicas como dispersão de sementes, regulação de abundância de presas e disponibilização nutrientes, o que deverá impactar as diferentes propriedades do ecossistema.
Palavras-chave: Amazônia, defaunação, vertebrados

Financiamento:

Financiamento: Projeto “Consequências da defaunação sobre a diversidade vegetal e serviços ecossistêmicos na Floresta Amazônica”. FAPESPA ICAAF 070/2020; FAPESP # 2019/25478-7

Área

Ecologia

Autores

GABRIELA SILVA BATISTA, RODRIGO FERREIRA FADINI, CARLOS RODRIGO BROCARDO, ARLISON BEZERRA CASTRO, MATHIAS MISTRETTA PIRES