Dados do Trabalho

Título:

FRUGIVORIA E PERIODO DE ATIVIDADE DA ANTA BRASILEIRA TAPIRUS TERRESTRIS (LINNAEUS, 1758) EM UMA UNIDADE DE CONSERVAÇAO NO SUL DE GOIAS, BRASIL

Resumo:

O estudo da dieta de mamíferos frugívoros é importante para compreensão de seu papel na dispersão de sementes e funcionamento do ecossistema. Aliado a informações sobre o período de atividade é possível ampliar o conhecimento sobre a história natural e dinâmica populacional. Neste estudo descrevemos as espécies vegetais consumidas e o período de atividade da anta-brasileira Tapirus terrestris (Perissodactyla, Tapiriidae) na Unidade de Conservação Refúgio da Vida Silvestre Serra da Fortaleza (RVSSF). O RVSSF representa uma área protegida de ~490 ha, inseridos em uma paisagem fragmentada de Cerrado, no município de Quirinópolis, estado de Goiás, Brasil central. Nós dividimos a área protegida e seu entorno em 20 hexágonos (unidades amostrais [área de ~57 ha cada]), sendo 10 em cada categoria, os quais foram amostrados em 2020 e reamostrados em 2021. A cada três meses cinco hexágonos eram amostrados por meio de busca ativa (~1,5 h) para coleta das fezes de anta. As fezes foram acondicionadas em sacos plásticos e triadas no laboratório de Zoologia, com o auxílio de peneiras e estereoscópio (=lupa) para separação das sementes. As sementes foram separadas por morfotipo, quantificadas e identificadas por meio do livro “Frutos e sementes do Cerrado: espécies atrativas para a fauna”, comparações com sementes de frutos coletados na área de estudo, e consulta a especialistas na área da botânica. No ano de 2021, duas armadilhas fotográficas (distantes ~500 m entre si) foram instaladas em cada hexágono, e permaneceram ativas durante 10 dias. As armadilhas foram configuradas para registrar, o dia e o horário de cada foto, e ao final de cada expedição as imagens eram analisadas. Coletamos sete amostras fecais, nas quais encontramos 2.261 sementes (1.565 intactas, 695 não-intactas e 1 nos primeiros estágios da germinação), distribuídas 15 espécies/morfoespécies, nas famílias botânicas: Apocynaceae, Fabaceae, Malphighiaceae, Myrtaceae, Melastomataceae, Poaceae e Rubiaceae. Cordiera sessilis (Rubiaceae) e Psidium sp. (Myrtaceae) apresentaram os maiores números de sementes consumidas (1.487 sementes, 81% intactas) e (1.363 sementes, 60% intactas), respectivamente. As armadilhas fotográficas capturaram 59 registros de anta, dos quais 85% (n = 50) das imagens foram registradas nos horários entre 18h00min e 06h:00min. O padrão de atividade esteve concentrado entre os períodos diurno (23%), noturno (46%) e crepuscular (31%). Destacamos que o índice de sementes intactas foi alto, que pode ser explicado pelo pequeno tamanho das sementes mais consumidas. Sementes pequenas podem ser ingeridas sem serem destruídas através da mastigação. O tamanho, neste caso da anta, também pode estar influenciando o padrão de atividade. Mamíferos maiores possuem atividade catemeral devido a haver uma maior necessidade energética. Nossos achados mostram que a anta adquire energia e nutrientes dos frutos com sementes de pequeno porte, e dispersam essas sementes em lugares e períodos variados, contribuindo para a interação ecológica animal-planta e para o funcionamento desse ecossistema altamente fragmentado que abriga uma área protegida no Brasil central.

Palavras-chave:
Tapirus terrestris, frugivoria, padrão de atividade, Cerrado.

Financiamento:

Área

Ecologia