11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

Avaliação de conflitos envolvendo morcegos através da análise de 14 anos de atendimento à população de Porto Alegre (RS), Brasil

Resumo:

O processo de urbanização transforma profundamente os habitats e favorece espécies de animais generalistas e oportunistas. Entre os morcegos há espécies que podem viver em áreas urbanas e se beneficiar da urbanização, podendo geral conflitos com humanos e animais domésticos. A resolução ou mediação desses conflitos geralmente fica a cargo de órgãos municipais competentes e as informações geradas pelos atendimentos podem ser utilizadas para a formulação de políticas públicas de conservação de fauna silvestre, desde que haja compilação sistemática e análise adequada de dados. No presente estudo, foi analisado o banco de dados compilado durante 14 anos, entre os anos de 2008 e 2021, pelo setor de Fauna Silvestre da Prefeitura Municipal de Porto Alegre (RS), com os objetivos de: 1. Verificar quais os tipos de atendimentos à população envolvendo morcegos são registrados; 2. Avaliar a distribuição dos atendimentos nos diferentes meses do ano e estações; e 3. Avaliar a distribuição das ocorrências ao longo dos 14 anos de compilação de dados. O banco de dados reúne informações dos atendimentos à população através de ligação telefônica ou sistema 156 (portal de solicitações do cidadão). Durante os 14 anos o setor realizou 1.104 atendimentos (78,9±24,5; 42-117). Os atendimentos à população foram reunidos em cinco categorias principais mais frequentes: presença de morcegos em estruturas construídas por humanos (n=866; 78,4%), morcegos visitando recursos vegetais forrageando em plantas árvores (n=51; e 4,9%), adentramento em residências (n=150 13,6%), avistamento (n=17; 1,5%) e indivíduos mortos ou feridos (n=17; 1,5%). Os 1104 atendimentos foram distribuídos de forma heterogênea entre as estações do ano, destes 251 (22,7%) ocorreram na primavera, 459 (41,6%) no verão, 186 (16,9%) no outono e 208 (18,8%) no inverno. O mês com o maior número de registros de atendimentos foi janeiro (n= 229; 20,7%) e o com menor número de registros foi junho (n=29; 2,6%). O número de atendimentos variou entre os diferentes anos analisados, com 42 (2,8%) atendimentos em 2008 e 117 (10,6%) atendimentos em 2021. Parte dessa variação pode ser atribuída a questões metodológicas, porém, pode também refletir flutuações populacionais anuais, fato que merece ser investigado. A predominância de atendimentos relativos a morcegos utilizando construções como abrigos e os casos de adentramento de indivíduos em residências indicam que haja predominância de morcegos insetívoros (Molossidae e Vespertilionidae) na área urbana de Porto Alegre. A variação sazonal no número de atendimentos, provavelmente, reflete a dinâmica da população de Tadarida brasiliensis, uma espécie abundante e, migratória que reproduz no verão no Rio Grande do Sul. Os filhotes dessa espécie nascem em dezembro e começam a voar no verão, quando ocorreram os picos de atendimento à população. Os atendimentos envolvendo morcegos frugívoros estiveram concentrados nos meses de outono e inverno, geralmente associados a visitação das figueiras das espécies Ficus cestrifolia e F. luschnathiana, comuns na cidade. Os resultados indicam que políticas públicas devem ser voltadas para a educação ambiental, orientando a população sobre o correto manejo de colônias em construções e como evitar a entrada de indivíduos no interior de residências, principalmente na primavera e verão.

Financiamento:

Área

Conservação

Autores

Soraya Ribeiro, Geane Peres Azambuja, Jamila Carvalho Pereira, Nassara Belling Mello, Bianca soraya Aveline, Ana Maria Rui