11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

DISTRIBUIÇAO ALTITUDINAL DOS MORCEGOS DA SERRA DO CAPARAO

Resumo:

Gradientes altitudinais são responsáveis por mudanças potencialmente abruptas nas comunidades biológicas, principalmente devido a mudanças na temperatura e na umidade. As comunidades de morcegos em locais de maior altitude parecem ser formadas principalmente por morcegos insetívoros aéreos. Os morcegos de outras guildas tróficas, como os insetívoros catadores, carnívoros, frugívoros e hematófagos, tendem a ser menos abundantes em altitudes maiores que 1.500m. No Brasil, poucos estudos com morcegos foram realizados em regiões de altitude acima de 1.000m. Destes, a maior parte foi conduzida nos estados de SP, MG e RJ. No ES, nenhum estudo foi publicado até o momento abordando morcegos de regiões de altitude elevada, embora a região do Parque Nacional do Caparaó (PNC), na porção sudoeste do estado, concentre o maior gradiente altitudinal da Mata Atlântica (até 2.892m – Pico da Bandeira). Adicionalmente, apesar de ser uma das áreas protegidas mais representativas da Mata Atlântica capixaba, a quiropterofauna da região permanece praticamente desconhecida. O presente estudo objetivou caracterizar a fauna de morcegos do PNC e avaliar como espécies e guildas tróficas se distribuem ao longo do gradiente altitudinal. Foram utilizados dois métodos amostrais: redes-de-interceptação-de-voo (redes-de-neblina) e detectores de ultrassom. As amostragens foram realizadas em quatro classes altitudinais: 800-1.300m, 1.300-1.800m, 1.800-2.300m e 2.300-2.800m. Com exceção da quarta classe, amostrada apenas por meio de detectores de ultrassom devido à impossibilidade de instalação das redes (solo e vento), as outras três classes foram amostradas pelos dois métodos. Foram registradas 35 espécies, incluindo representantes das famílias Phyllostomidae (n = 11 espécies), Vespertilionidae (n = 11), Molossidae (n = 11) e Emballonuridae (n = 02). As amostragens com rede resultaram na captura de 523 espécimes de 15 espécies (44,1% do total) e, a partir das gravações de ultrassom, foram identificadas 23 espécies (65,7%). Das espécies registradas, apenas três (8,8%) foram amostradas considerando os dois métodos simultaneamente. Integrando os dois métodos de amostragem, a Classe 1 reuniu 32 espécies (91,4%), enquanto as Classes 2 e 3 totalizaram separadamente 20 espécies (57,1% cada) e a Classe 4 reuniu sete espécies (20,0%). A riqueza esteve concentrada em altitudes mais baixas, havendo relação inversamente proporcional à altitude, o que indica padrão clinal de distribuição dos morcegos da região do Caparaó. Esse resultado foi comum aos dois métodos, reiterando que as variáveis ambientais relacionadas à altitude influenciam fortemente a presença das espécies, principalmente aquelas pertencentes às guildas nectarívora, frugívora, hematófaga e catadores aéreos. As espécies insetívoras, apesar de também sofrerem tal influência, foram registradas em maior número ao longo de todo gradiente altitudinal, sendo as únicas amostradas na classe altitudinal mais elevada. Os resultados obtidos contribuem para conhecimento da quiropterofauna da região do Caparaó e para entendimento dos padrões de distribuição de morcegos e guildas tróficas, além de favorecer avaliações futuras sobre permanência de espécies, auxiliando na avaliação de consequências das alterações antrópicas e climáticas sobre as populações. Neste sentido, ressalta-se que as áreas montanhosas brasileiras são negligenciadas em planos de conservação, embora sejam as que mais sofrem influência de macroalterações ambientais, como as Mudanças Climáticas.

Financiamento:

FAPES (Projeto 180/2019); CAPES.

Área

Ecologia

Autores

CARINA MARIA VELA-ULIAN, ALBERT DAVID DITCHFIELD, ANA CAROLINA SRBEK-ARAUJO