11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

TOQUE NO ROSTO DE OUTROS: DESENVOLVIMENTO DE RECONHECIMENTO FACIAL OU MODULAÇAO DE REDE SOCIAL POR FILHOTES DE MACACO-PREGO (SAPAJUS LIBIDINOSUS)

Resumo:

O tato tem grande impacto no desenvolvimento saudável de infantes, principalmente ao serem segurados e acariciados. Também se sabe da importância do controle motor para a manipulação de objetos em humanos e macacos-prego. Mas pouco se diz da influência do toque feito por infantes no seu desenvolvimento social. Recentes trabalhos demonstraram que ao ter a oportunidade de investigar objetos manualmente, macacos-prego aprendem mais rapidamente a diferenciar estes objetos visualmente. O trabalho em questão buscou investigar a função do toque na face de outros indivíduos por filhotes de macacos-prego (Sapajus libidinosus), sendo esta afetiva ou para facilitar o aprendizado do reconhecimento facial. Um dos fatores necessários para averiguar esta função era a descrição do padrão motor deste comportamento ao longo dos primeiros meses de vida de infantes de um grupo de vida livre da Fazenda Boa Vista, no Piauí. Foi elaborado um etograma adequado para este objetivo e a codificação foi feita no BORIS. Foram analisadas 74 horas de vídeo com amostragem animal-focal, depositados no acervo digital de dados do LEDIS (Laboratório de Etologia, Desenvolvimento e Interações Sociais), correspondentes ao 1º, 2º, 3º e 6° mês de vida de 8 filhotes. Após a codificação de 88 eventos de toque encontrados ao longo deste tempo foram encontrados os seguintes resultados: a exploração da face ou cabeça é feita de forma unimanual (92%); a face ou cabeça não é explorada pelas mãos quando tocada (81,8%), exceto no 2º mês (41% de exploração); o toque é feito de forma suave, apenas encostando (89,7%); no 1º mês, o filhote não segurava o rosto ou cabeça do tocado (42,8%) ou segurava a orelha (28,6%), já no 2º, ele não segurava (50%) ou segurava outra parte da cabeça ou rosto (40,9%), como os pelos na lateral ou acima da cabeça, essa porcentagem cresce nos mês seguinte (71,4%), e no 6º mês cai para 50%; por fim o comportamento envolvia puxar a parte segurada nos meses 1 (42,8%), 2 (13,6%), 3 (85,7%) e 6 (67,3%). Logo, a face não é explorada de forma tátil, como necessário para reconhecer adequadamente um objeto, exceto no 2º mês, momento no desenvolvimento, onde o filhote começa a interagir mais com o ambiente e, possivelmente, o momento mais importante para a ocorrência dessa exploração e para aprender a reconhecer os indivíduos de seu grupo. O toque não envolveu ações como arranhar ou bater, indicando uma interação mais adequada para toques afetivos e para a observação da face. Já o segurar uma parte do rosto ou cabeça e puxá-la para si não é um padrão frequente no 2º mês, o que demonstra ainda mais uma diferenciação do padrão motor deste mês em relação aos outros. Conclui-se então que os resultados obtidos corroboraram ambas as hipóteses, contudo, estudos sobre outros aspectos do comportamento ainda são necessários para elucidar o tema.

Palavras-chave: desenvolvimento social, tato, primatas

Financiamento:

FAPESP

Área

Etologia/Bem-estar animal

Autores

Beatriz Franco Felício, Patrícia Izar