11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

RELATO DE CASO DE MORTALIDADE DE MORCEGO FORRAGEANDO EM RODOVIA NA ESTAÇAO ECOLOGICA DO TAIM, NO EXTREMO SUL DO BRASIL

Resumo:

Morcegos são afetados por estradas, já que sua construção e operação causam a perda, fragmentação e degradação de habitats e a destruição de seus abrigos, além de provocar mortalidade de indivíduos por colisão com veículos. A maioria dos estudos que investigaram os efeitos de estradas em morcegos foi conduzida nos Estados Unidos e Europa, sendo que na América do Sul existem estudos abordando apenas a questão da mortalidade por colisão. Esse trabalho tem por objetivo relatar um caso de morte por colisão de morcego forrageando em rodovia, no município de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil. O caso aqui relatado ocorreu na BR 471 (32°34’58”S, 52°33’47”W), na Estação Ecológica do Taim (ESEC Taim), uma unidade de conservação federal com área de 32.806,31 hectares e composta majoritariamente por vegetação de campo e por banhados. O registro de mortalidade por colisão ocorreu durante a busca por carcaças na rodovia em atividade de campo de disciplina (Ciências Biológicas UFPel) no dia 29 de abril de 2019 (lua minguante), quando o exemplar foi coletado e encaminhado para identificação. Em laboratório, o indivíduo teve sua massa e medidas obtidas, foi identificado e necropsiado para ser estabelecida a causa da morte. O indivíduo é da espécie Lasiurus ega (Vespertilionidae), macho, adulto, sem desgaste dentário, com comprimento total do antebraço de 45,91mm e 14 g de massa. O indivíduo morreu em decorrência da colisão com veículo, apresentando fratura exposta no antebraço esquerdo e traumatismo craniano, o que indica que voava a baixa altura na estrada. O morcego estava forrageando na rodovia ou muito próximo, já que carregava na cavidade bucal uma mariposa (Lepidoptera), cuja a espécie não pode ser identificada por caracteres morfológicos. O presente trabalho é o primeiro relato de mortalidade por colisão de L. ega em habitat aberto, com campos úmidos e banhados, e corrobora que a espécie pode forragear em estradas ou próximo delas. Os outros cinco registros de morte de indivíduos de L. ega por colisão no Brasil ocorreram na Mata Atlântica, quatro no Espírito Santo e um no sul de Santa Catarina. Estradas que percorrem habitats planos e com vegetação baixa semelhantes à da ESEC Taim podem formar zonas atrativas para insetos noturnos devido ao calor acumulado liberado à noite pelo asfalto e a luminosidade dos faróis dos veículos, o que pode alterar os padrões de forrageio de morcegos insetívoros e potencializar a mortalidade por colisão. Os impactos de estradas na atividade e a mortalidade por colisão são fortemente influenciados por características da paisagem, sendo que estudos realizados em países do hemisfério norte indicam que em áreas abertas os morcegos preferem forragear perto de estradas, enquanto em áreas de floresta a atividade aumenta com a distância da estrada. Porém, a dieta e comportamento de L. ega são pouco conhecidos, o que torna difícil a avaliação da susceptibilidade de suas populações a impactos em rodovias, o que deve ser investigado considerando os registros de mortalidade existentes. Palavras-chave: Lasiurus ega, Lepidoptera, Pampa, Rio Grande do Sul, Vespertilionidae.

Financiamento:

Área

Ecologia

Autores

Marcos César Faustino, Janryê Kloppemburg Chagas, Juliana Hinz Wolter, Ricardo Ribeiro Crochemore da Silva, José Eduardo F. Dornelles, César Jaeger Drehmer, Ana Maria Rui