11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

COMUM OU NAO TAO COMUM? DIFERENÇAS NA OCUPAÇAO DE SITIOS E PADRAO DE ATIVIDADE DE QUATI (NASUA NASUA) E DO MAO-PELADA (PROCYON CANCRIVORUS) NO LIMITE SUL DA MATA ATLANTICA

Resumo:

O quati (Nasua nasua) e o mão-pelada (Procyon cancrivorus) são dois procionídeos simpátricos e relativamente comuns, aparentemente tolerando níveis moderados de modificação antropogênica enquanto diferem em comportamento social e período de atividade. Neste estudo, avaliamos o uso do espaço e do tempo por essas duas espécies neotropicais em populações do limite sul da Mata Atlântica. Usamos dados de 105 estações de armadilhas fotográficas distribuídas ao longo de cinco áreas para construir modelos hierárquicos de ocupação de sítios e descrever os períodos de atividade do quati e do mão-pelada. Para o período de atividade analisamos como cada espécie poderia mudar sua atividade conforme a área, testando a homogeneidade entre áreas, também testamos a uniformidade de cada espécie em cada área. Foi comparado seu período de atividade com o de potenciais predadores. Analisamos dados de 7.541 câmera/noite de esforço amostral. Os melhores modelos indicaram que a probabilidade de detecção do quati foi negativamente relacionada à distância das estradas (p-valor<0,01), enquanto a probabilidade de detecção do mão-pelada foi influenciada positivamente pela abundância de grandes felídeos (p-valor<0,01). A probabilidade média de ocupação do mão-pelada (psi=0,31; 0,16 – 0,55 IC) foi menor que a do quati (psi=0,68; 0,32 – 0,89 IC). Ambas as espécies apresentaram maiores probabilidades de ocupação em áreas preservadas e menores em áreas modificadas de maior distúrbio antrópico, com a menor probabilidade de ocupação na única área não protegida de nossa amostra. Fizemos as análises temporais nas áreas que obtivemos o mínimo de n amostral para as duas espécies (n>15). Quanto a uniformidade, o quati foi diurno nas duas áreas mais preservadas (Rayleigh -Z 0,6365, p-valor < 0,05), (Rayleigh -Z 0,4864, p-valor < 0,001), na área mais modificada sua atividade foi mais catemeral (Rayleigh-Z 0,1538, p-valor: 0,472). O mão-pelada foi noturno em todas as áreas (Rayleigh -Z 0,5753, p-valor < 0,05) (Rayleigh -Z 0,7286, p-valor < 0,05). Quando comparamos a homogeneidade entre áreas vimos que a área mais modificada diferiu das outras áreas mais preservadas (W 0,3435, p-valor < 0,01) (W 0,2248, p-valor < 0,05) mas que entra as áreas mais preservadas o atividade do quati foi homogênea, (W 0,083, p-valor > 0,10). O mão-pelada não diferiu entre áreas quanto a homogeneidade (W 0,1463 p-valor > 0,10). De modo geral, o quati teve uma sobreposição temporal menor com potenciais predadores, como Panthera onca (∆=0,306;0,134 - 0,345 IC) e Leopardus pardalis (∆=0,237; 0,053– 0,317 IC) do que o mão-pelada com P. onca (∆ =0,760; 0,652 – 0,946 IC) e L. pardalis (∆ =0,798; 0,741 - 0,59 IC ), com Puma concolor o mão-pelada teve sobreposição maior (∆ =0,328; 0,0519 - 0,548 IC ). O mão-pelada apresentou menor probabilidade menor de ocupar os sítios amostrados no sul da Mata Atlântica do que o quati. O quati demonstrou ter plasticidade em seu período de atividade diária, apresentando um período de atividade mais catemeral na área mais antropizada. Nossos resultados indicam que, embora comuns, o quati e o mão-pelada apresentam níveis distintos de sensibilidade às mudanças antrópicas na paisagem.

Financiamento:

Rufford

Área

Ecologia

Autores

Jordani Dutra, Maria João Ramos Pereira, Paula Horn, Victoria Graves, Flávia Tirelli