11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

INVENTARIO MASTOFAUNISTICO EM UM REMANESCENTE DE MATA ATLANTICA DE TABULEIRO DO SUDESTE DO BRASIL

Resumo:

Inventários faunísticos representam ações básicas e relevantes para conservação da biodiversidade, sendo fundamental também a coleta de informações ao longo do tempo para detecção de eventuais alterações nas comunidades. O presente estudo objetivou caracterizar a comunidade de mamíferos de médio e grande porte presente em um remanescente de Mata Atlântica de Tabuleiro do sudeste do Brasil, comparando dados obtidos com informações reunidas em 2005-2010. O estudo foi realizado na Reserva Natural Vale (RNV; Linhares/Espírito Santo) e, para coleta de dados, foram utilizadas armadilhas fotográficas instaladas em estradas internas não-pavimentadas e no interior da mata, no período de março/2018 a fevereiro/2019 (~12 meses). Para evitar superestimar o número de registros de cada espécie, foram considerados apenas registros independentes. Foi usado o estimador Jackknife de primeira ordem (Jackknife 1) para estimar a riqueza de espécies (média ± desvio padrão) considerando dados de presença e ausência. Foram obtidos 799 registros independentes de mamíferos, resultando em 24 espécies silvestres com sucesso de captura total de 51,1 (esforço amostral=1.564 armadilhas-dia). Dentre as espécies amostradas, 23 foram registradas nos três primeiros meses de estudo, enquanto o registro da última ocorreu somente no décimo mês de amostragem (Sapajus robustus). A riqueza estimada foi de 26,75 ± 1,97 espécies, indicando potencial para registro de até cinco outros táxons mediante o aumento do esforço de amostragem. No período anterior (48 meses; esforço amostral=10.567 armadilhas-dia), a riqueza estimada foi de 29,98 ± 1,71 (n=26 espécies registradas). Considerando as espécies apropriadamente amostradas por armadilhas fotográficas (terrícolas ou escansoriais e identificáveis com segurança por fotografias/vídeos), a mastofauna da região reúne 32 táxons, evidenciando que os registros obtidos, nos dois momentos amostrais e em conjunto, são incompletos quanto à riqueza total. Neste sentido, ressalta-se a presença de espécies raramente registradas por armadilhas fotográficas na RNV, como Cabassous tatouay, Euphractus sexcinctus e Galictis cuja (amostradas no período 2005-2010), além de espécies localmente confirmadas e que não constam nas listas produzidas nos dois momentos, como Priodontes maximus, Lontra longicaudis, Conepatus semistriatus, Leopardus guttulus e Sphiggurus insidiosus. O sucesso de captura geral do presente estudo foi quase o dobro do período anterior (=26,4), o que pode ser devido a diferenças tecnológicas (eficiência dos sensores de movimento, por exemplo) entre as armadilhas utilizadas nos dois momentos (equipamentos analógicos x digitais). Comparando táxons registrados nos dois períodos (considerando ranqueamento, independentemente do valor absoluto), ressalta-se que três permaneceram como táxons com maior sucesso de captura, sendo Mazama sp., Dasyprocta leporina e Tapirus terrestris. As espécies Nasua nasua e Leopardus pardalis se tornaram mais representativas, enquanto Dasypus sp. e Cuniculus paca sofreram decréscimo na representatividade. Uma vez que o desenho amostral foi semelhante, as diferenças observadas podem estar relacionadas a variações na atividade das espécies, sendo necessário avaliar se essas correspondem a mudanças populacionais. Por fim, ressalta-se que a amostragem de espécies raras e evasivas demanda maior esforço amostral, mesmo em estudos empregando armadilhas fotográficas. Neste sentido, é possível que uma maior diversificação dos tipos de locais amostrados contribua para o registro de espécies com menor detectabilidade.

Financiamento:

Vale e FAPES (Projeto 510/2016); UVV.

Área

Inventário de espécies

Autores

Silvia Gabriela do Nascimento Agostinho, Thais Fernandes Bassani, Bárbara Victor Sonegheti, Gustavo da Costa Peterle, Alizandra Ferreira Linhares, Colomba Ortúzar, Ana Carolina Srbek-Araujo