11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

PADROES LOCAIS DE CAÇA DE MAMIFEROS NAS SAVANAS DO AMAPA

Resumo:

A sobre-exploração é uma das principais ameaças à biodiversidade, sendo que a caça ameaça várias espécies de mamíferos terrestres, podendo afetar espécies mais sensíveis até mesmo em áreas pouco povoadas e relativamente preservadas, como as Savanas do Amapá. Dessa forma, torna-se imprescindível levantar informações sobre a pressão de caça nesses locais, assim como seus determinantes socioeconômicos. Neste trabalho, nós descrevemos o perfil de caça, e determinantes socioeconômicos e ambientais dessa atividade em comunidades rurais nas Savanas do Amapá. Nós coletamos dados sobre alvos de caça e aspectos socioeconômicos de caçadores através de entrevistas semiestruturadas com representantes de 68 residências e obtivemos dados das atividades de caça de 39 moradores da região de estudo através de calendários de caça preenchidos durante 12 meses (fevereiro de 2018 a janeiro de 2019). Os mamíferos foram a principal fonte de carne de caça para as comunidades estudadas, representando 77,4% da biomassa total estimada de vertebrados caçados durante o monitoramento. Nós estimamos que ~36 espécies de mamíferos são caçadas na região. Há uma grande concentração do esforço de caça em poucas espécies, sendo que as quatro espécies mais caçadas – Dasypus novemcinctus, Dasyprocta leporina, Hydrochoerus hydrochaeris e Cuniculus paca – somam mais de 68% do total de mamíferos abatidos. Entre os mamíferos registrados, encontramos cinco espécies ameaçadas de extinção: Alouatta belzebul, Ateles paniscus, Myrmecophaga tridactyla, Priodontes maximus e Tapirus terrestris. No entanto, com exceção de A. belzebul, que representou 4,7% (n=17) de todos os animais caçados, as espécies ameaçadas foram raramente caçadas e individualmente nenhuma ultrapassou mais que 1% de todos os registros de caça. De modo geral, não observamos efeito da estação (chuvosa ou seca) na composição, número, biomassa, ou riqueza de espécies de animais caçados. No entanto, variáveis ambientais (disponibilidade de rios e florestas no entorno) e características socioeconômicas dos caçadores (idade, renda e proximidade com centros urbanos) influenciaram a composição das espécies caçadas. Nós sugerimos que as variações observadas são reflexo dos efeitos da variação tanto na disponibilidade de presas – regulada pelas variáveis ambientais – como nas motivações dos caçadores (consumo próprio, venda ou lazer) – moduladas tanto por variáveis ambientais como por características socioeconômicas. Sem dados sobre o tamanho das populações de espécies ameaçadas, não é possível determinar se a intensidade de caça registrada aqui é sustentável e se a relativa raridade da caça dessas espécies decorre de uma depauperação de suas populações. Entretanto, assumimos que a caça de espécies ameaçadas tem potencial para ameaçar localmente as populações dessas espécies e deve ser considerada em conjunto com as necessidades de subsistência dos caçadores locais.

Financiamento:

The Rufford Foundation (22322-1), Conservation Leadership Programme (02327917).

Área

Etnozoologia

Autores

Renato Richard Hilário, Saulo Meneses Silvestre, José Julio Toledo