11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

QUANDO OS GRANDES MAMIFEROS NAO VOLTAM: UMA HISTORIA DE DEFAUNAÇAO INSULAR

Resumo:

Registros históricos, feitos em diários de bordo de navegadores estrangeiros, mencionam a ocorrência de pumas e onças-pintadas na Ilha de Santa Catarina (ISC). Porém, as pressões antrópicas somadas ao isolamento atuaram como filtro para espécies sensíveis, como predadores especialistas e dispersores de grandes sementes, levando a perda de 22,8% das espécies de mamíferos. Esse processo de defaunação, que é um fenômeno amplamente difundido nos trópicos, (re)estrutura as comunidades e altera os processos ecossistêmicos. A ausência de predadores afeta os diversos níveis das teias tróficas, alterando a composição da comunidade e ambientes com alto impacto humano viabilizam a dominância de espécies de menor porte e sensíveis, como Dasyprocta azarae. Nosso trabalho prevê que manchas florestais da ISC não possuem assembleias de mamíferos similares àquelas do continente próximo, independentemente das características ambientais, devido à impossibilidade de recolonização de espécies-chaves e, consequentemente, um efeito resgate nas assembleias. Usando armadilhas-fotográficas, entre 2005 e 2022 foram analisadas nove áreas de Floresta Ombrófila Densa na ISC e seis áreas de mesma formação florestal do continente próximo, compondo 3.426 registros independentes diários de mamíferos. Os valores de resiliência foram obtidos através da proporção entre espécies resilientes e sensíveis presentes nas áreas; os valores de guildas tróficas foram obtidos pela proporção do somatório dos pesos funcionais atribuídos a cada espécie de acordo com seu tamanho corporal e guilda trófica; a dominância foi obtida através do índice de Berger-Parker; e a defaunação pelo índice de Giacomini e Galetti. Utilizamos Análise de Correspondência Canônica para entender a disposição das áreas e das espécies em relação aos valores ecológicos acima citados. O primeiro eixo explicou 64,4%, correspondendo a maior diversidade funcional e presença de predadores especialistas, enquanto o segundo eixo explicou 16,7% relacionado a impossibilidade de recolonização e ausência de predadores especialistas. Houve o agrupamento das áreas da ISC associado às variáveis Resiliência, Dominância e Defaunação; e a oposição das seis áreas continentais em relação às insulares, evidenciando assembleias compostas por espécies de níveis tróficos superiores e de maior porte. Isto sugere que áreas continentais, mesmo fragmentadas, possuem maior diversidade de espécies, com presença de carnívoros e possibilidade de recolonização. Enquanto nas áreas insulares, a matriz pouco permeável, limita a recolonização natural da maioria das espécies. Adiciona-se a isso as pressões antrópicas, como uso e ocupação do solo e caça, que incrementam os valores de defaunação não salvos pelo efeito-resgate. Marsupiais e roedores se tornaram dominantes na ISC, sendo que Didelphis aurita relaciona-se a maior defaunação em comparação à Dasyprocta azarae, considerada sensível e presente em ambientes mais preservados. Nas últimas décadas a ISC tem se mostrado um modelo dos efeitos da defaunação na assembleia de mamíferos ao longo da sucessão ecológica quando há restrição da recolonização de espécies. Quando há padrões similares de defaunação, ações de conservação podem ser propostas visando formas de manejo que busquem diminuir os impactos desse fenômeno mantendo a resiliência e composição das assembleias de mamíferos. Palavras-chave: Dominância, Floresta Ombrófila Densa, Guildas tróficas, Recolonização, Resiliência.

Financiamento:

Esse trabalho foi executado através do Projeto Fauna Floripa, uma parceria entre a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (FLORAM), o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA-SC), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Programa Ecológico de Longa Duração de Santa Catarina/PELD BISC financiado pelo CNPq (Chamada CNPq/Capes/FAPs/BC-Fundo Newton/PELD nº 15/2016, Chamada CNPq/MCTI/CONFAP-FAPS/PELD no 21/2020) e Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC 2018TR0928; FAPESC 2021TR386); Financiamento da FAPESC por meio do Termo de Outorga 2017TR1706; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e é apoiado pela bolsa de mestrado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Juliano A. Bogoni é apoiado pelas bolsas de pós-doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) nº 2018-05970-1 e nº 2019-11901-5, Paula Ribeiro-Souza é apoiada pela bolsa de doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), n° 88887.519051/2020-00.

Área

Ecologia

Autores

Barbara Lima-Silva, Maurício Eduardo Graipel, Juliano A. Bogoni, Paula Ribeiro-Souza, Camila Rezende Ayroza, Talita Laura Góes, Fernando Bittencourt de Farias, Bruna Nunes Krobel, Fernando Carvalho, José Salatiel Rodrigues Pires