11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

ESTIMATIVAS DE BASE DE PRESAS DE MAMIFEROS TERRESTRES DE MEDIO E GRANDE PORTE PARA A ONÇA-PINTADA NA MATA ATLANTICA

Resumo:

A onça-pintada (Panthera onca) encontra-se criticamente ameaçada de extinção na Mata Atlântica, com uma população estimada em, no máximo, 300 indivíduos, distribuídos em subpopulações isoladas. O declínio da base de presas tem sido considerado como uma das principais ameaças à espécie. Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo estimar a abundância e biomassa relativas e a riqueza de presas, por meio de armadilhamento fotográfico, em oito áreas protegidas da Mata Atlântica, cinco onde a presença da onça-pintada é conhecida (Parque Estadual Carlos Botelho - PECB, Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Santa Virgínia - PESM-NSV, Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Itariru - PESM-NITA, Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira - PETAR, Parque Nacional Guaricana - PNG) e três onde a espécie possivelmente já se encontra extinta funcionalmente (Estação Ecológica do Bananal - EEB, Área de Proteção Ambiental de São Francisco Xavier - APA-SFX, Legado das Águas, Reserva Votorantin - LA). A amostragem foi realizada de 2015 a 2021, durante uma estação do ano em cada área de estudo (seis meses), totalizando 438 sítios e um esforço amostral de 25.780 câmeras/dia. A riqueza de presas das áreas de estudo foi estimada e comparada por meio do método de rarefação-extrapolação com base em indivíduos e modelou-se a abundância relativa média das presas por meio do modelo Royle & Nichols, modelo de ocupação que considera que as variações na detecção são causadas pela heterogeneidade na abundância. As espécies de presas potenciais modeladas foram Didelphis aurita, Dasypus novemcinctus, Cabassous tatouay, Tamandua tetradactyla, Tapirus terrestris, Dicotyles tajacu, Tayassu pecari, Nasua nasua, Dasyprocta leporina, Cuniculus paca e Mazama spp. Por meio da modelagem, foi possível também investigar quais variáveis socioambientais influenciam a abundância de presas. A riqueza estimada de espécies de presas (8.8-13.0) não diferiu significativamente entre as áreas. Entretanto, os resultados indicaram maior abundância e biomassa relativas de presas em áreas com presença de onça-pintada, sendo que D. novemcinctus foi a espécie mais abundante, enquanto que os veados (Mazama spp.) e D. leporina foram as mais raras. Quanto à biomassa relativa, D. novemcinctus também foi a espécie com maior contribuição, porém T. tetradactyla, C. tatouay e T. terrestris apareceram como presas importantes. A variável Pegada Humana foi a que influenciou um maior número de presas, apresentando efeito negativo para D. tajacu, cuja abundância foi significativamente maior em áreas com menor influência antrópica. Os resultados sugerem que abundância e biomassa de presas são mais relevantes que riqueza para sustentar populações de onças-pintada e reforçam a hipótese de que o declínio das populações de presas pode estar causando o co-declínio das populações de onça-pintada. Evitar ou minimizar impactos sobre as espécies de presas pode representar uma esperança para a onça-pintada na Mata Atlântica, aumentando a sua viabilidade populacional a médio e longo prazo.

Financiamento:

FAPESP (2014/09300-0; 2018/16662-6, 2018/50038-8, 2018-05970-1, 2019-11901-5); Fundação O Boticário (1001_20141, 1097_20171); Rufford Foundation; Wild Felid Research and Management Association.

Área

Ecologia

Autores

Katia Maria Paschoaletto Micchi Barros Ferraz, Roberta Montanheiro Paolino, Juliano André Bogoni, Mariana Landis, Roberto Fusco-Costa, Leticia Prado Munhões, Juan Andrés Domini, Hiago Ermenegildo, João Carlos Zecchini Gebin, Gabriel Shimokawa Magezi, Ronaldo Gonçalves Morato, Adriano Garcia Chiarello