11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

AS ESPECIES DE FELIDEOS MUDAM SEUS CICLOS CIRCADIANOS CONFORME O AMBIENTE EM QUE VIVEM?

Resumo:

O ritmo circadiano de carnívoros reflete o equilíbrio entre a segregação temporal e/ou espacial entre competidores e predadores e a sobreposição de suas atividades com o maior número possível de presas. Entretanto, alterações no habitat, condições climáticas e influências antrópicas também podem influenciar no ritmo circadiano. Além disto, espécies semelhantes podem apresentar ritmos diferentes conforme seus locais de ocorrência. Portanto, objetivamos testar se as espécies de felídeos silvestres possuem diferenças em seus ritmos circadianos em duas formações florestais da Mata Atlântica. O estudo foi realizado em 11 sítios — quatro em Floresta Ombrófila Densa (FOD) e sete em Floresta Ombrófila Mista (FOM) — no sudeste de Santa Catarina. Com o método de armadilhamento fotográfico, obtivemos dados de ocorrência das espécies, com as a respectivas data e horário dos registros. Para manter a independência dos registros apenas um evento por hora de cada espécie em cada armadilha foi considerado. A amostragem abrangeu 474 registros de Puma concolor (NFOD = 441; NFOM = 33), 485 de Leopardus pardalis (NFOD = 421; NFOM = 64), 239 de Leopardus wiedii (NFOD = 213; NFOM = 26) e 551 de Leopardus guttulus (NFOD = 399; NFOM = 152). Realizamos as seguintes comparações: (i) classificação das espécies conforme seus períodos de maior registro de atividade, (ii) avaliação do grau de sobreposição (∆) do ritmo circadiano da espécie nas formações florestais, (iii) teste de homogeneidade entre o ritmo circadiano da espécie conforme as formações florestais. A classificação do período de atividade seguiu o proposto por GÓMEZ et al. (2005). Para a análise de sobreposição foram usados os cálculos de densidade de atividade de cada espécie, por meio do teste de Kernel, realizadas no software R utilizando o pacote “Overlap”. Estes coeficientes de sobreposição foram classificados conforme o proposto por MASSARA et al. (2018). Realizamos o teste Mardia-Watson-Wheeler — com valor de significância de 0,05 — para avaliar se os ritmos circadianos são diferentes conforme as formações florestais. Duas espécies foram classificadas como Cathemerais: P. concolor e L. guttulus; e duas como Preferencialmente Noturnas: L. pardalis e L. wieddi. Não ocorrendo mudanças na classificação conforme a formação florestal. Todas as espécies tiveram ciclos altamente sobrepostos (∆ > 0,70). Contudo L. pardalis e L. guttulus registraram ciclos diferentes entre as formações (p < 0,05), ambas tiveram aumento de atividade no período noturno na FOM. A FOD oferece um ambiente com temperaturas amenas, permitindo que as espécies de felídeos realizem suas atividades de maneira mais esparsa. Na FOM as espécies de maior porte possuem maiores áreas de vida, consequentemente menor densidade. Além disto, existe a influência da paisagem do medo, que faz com que as espécies usem mais o período noturno, evitando a maior exposição em áreas de vegetação mais aberta. Com isso, concluímos que felídeos comportam-se de maneira diferente nas duas formações florestais, sendo, neste estudo, L. pardalis e L. guttulus as espécies que mais respondem as variações ambientais.

Palavras-chave: Mata Atlântica, habitat, nicho temporal

Financiamento:

VM é bolsista de doutorado da CAPES/PROSUC.
JAB é apoiado pelas bolsas de pós-doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) nº 2018-05970-1 e nº 2019-11901-5.
Parte do dados foram obtidos sob ortorga da FAPESC n°2017TR1706

Área

Ecologia

Autores

Viviane Mottin, André Gustavo Francisco Moraes, Michele Ribeiro Luiz, Juliano A. Bogoni, Maurício Graipel, João Marcelo Deliberador Miranda, Jairo José Zocche