11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

EFEITO DA LIBERAÇAO DO MESOPREDADOR NO RITMO CIRCADIANO DE LEOPARDUS GUTTULUS

Resumo:

Felidae é um grupo monofilético com espécies semelhantes e competidoras. Espera-se que ao estarem em simpatria, as espécies modifiquem seu nicho temporal, sincronizando suas atividades com suas presas enquanto evitam a competição — e possíveis predações — com espécies maiores. Espécies menores que ocupam status subordinado na guilda trófica de felinos, evitam encontros agonísticos ao apresentarem atividade circadiana distinta de espécies dominantes. Assim, objetivamos verificar se o ritmo circadiano de Leopardus guttulus difere entre sítios de duas formações florestais com e sem a presença de Leopardus pardalis. Realizamos o estudo em 11 áreas da Mata Atlântica — quatro em Floresta Ombrófila Densa (FOD) e sete em Floresta Ombrófila Mista (FOM) — do sudeste de Santa Catarina. Usando armadilhas fotográficas, obtivemos registros das espécies, data e horário do registro. Para manter a independência dos dados, apenas um registro de cada espécie por hora em cada armadilha foi considerado. Utilizamos 538 registros de L. guttulus, 386 na FOD (313 em sítios com a presença de L. pardalis e 73 sem) e 152 na FOM (106 na presença de L. pardalis e 46 na ausência); para L. pardalis obteve-se 485 registros (421 na FOD e 64 na FOM). No software R, com auxílio pacote “Overlap”, utilizamos o teste do cálculo do coeficiente de sobreposição (∆) e o teste Mardia-Watson-Wheeler para avaliar os padrões de sobreposição de atividade das espécies entre as comparações. Ao analisar os ritmos circadianos de L. guttulus em simpatria com L. pardalis, observamos que as espécies possuem ritmos diferentes (p < 0,05) e baixa sobreposição (∆ = 0,23 na FOD e ∆ = 0,41 na FOM). Os ritmos de L. guttulus em sítios com e sem a presença da espécie dominante foram estatisticamente diferentes em ambas as formações florestais (∆ = 0,72 em FOD e ∆ = 0,73 em FOM e p < 0,05). Na presença de L. pardalis, L. guttulus é registrado ao longo de todo o período do dia, não havendo pico de registros, já na ausência de L. pardalis ocorre aumento de registros no período noturno e decréscimo no período diurno. Nossos resultados confirmam o efeito da liberação do mesopredador, onde as espécies de menor porte alteram suas atividades na presença da espécie dominante. Eventos de predação são raros de serem registrados, porém não impossíveis. Deste modo, a segregação temporal é a maneira das espécies de menor porte evitarem encontros agonísticos com espécies de maior porte. Estudos mostram que em casos extremos, as espécies subordinadas — como L. guttulus, podem até mesmo evitar áreas com melhores recursos alimentares, como unidades de conservação, para evitar estes encontros. Já em áreas sem ocorrência das espécies maiores, as espécies de pequeno porte têm maior liberdade de forrageamento, podendo ajustar seus horários de atividades aos momentos de maior disponibilidade de presas ou com condições climáticas menos estressantes. Concluímos que L. guttulus modifica seu ritmo circadiano na presença de L. pardalis, apresentando padrão Cathemeral utilizando recursos não preferenciais como forma de minimizar os encontros agonísticos.

Partilha de nicho, sobreposição de nicho temporal

Financiamento:

VM é bolsista de doutorado da CAPES/PROSUC.
JAB é apoiado pelas bolsas de pós-doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) nº 2018-05970-1 e nº 2019-11901-5.
Parte dos dados foram obtidos sob ortorga da FAPESC n°2017TR1706

Área

Ecologia

Autores

Viviane Mottin, André Gustavo Francisco Moraes, Michele Ribeiro Luiz, Juliano A. Bogoni, Maurício Graipel, João Marcelo Deliberador Miranda, Jairo José Zocche