11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

TRAVESSIAS PERIGOSAS: EFEITOS DE OLEODUTOS E GASODUTOS NOS MOVIMENTOS DA CUICA-LANOSA-DE-PELO-LONGO (MARMOSA PARAGUAYANA) NA MATA ATLANTICA

Resumo:

Estruturas lineares, como estradas, dutos e redes elétricas, contribuem para a fragmentação e perda de habitat, que é a principal ameaça para os mamíferos silvestres. Apesar do impacto de rodovias sobre a fauna ser mais bem estudado, as consequências de outros tipos de estruturas lineares são ainda pouco conhecidas para mamíferos. Este é o caso dos oleodutos e gasodutos subterrâneos que, apesar de não oferecerem perigos relacionados ao atropelamento, geram uma matriz linear desmatada permanente (chamada faixa de dutos), que pode prejudicar os movimentos de pequenos mamíferos na paisagem, principalmente arborícolas, uma vez que levam à descontinuidade no dossel florestal e à maior exposição à predação. Além disso, as faixas de dutos criam bordas que podem afetar a qualidade do habitat e impactar o uso pelas espécies. Assim, avaliamos os efeitos “barreira” e “de borda” de uma faixa de dutos sobre os movimentos da cuíca-lanosa Marmosa paraguayana, um marsupial arborícola de pequeno porte. Foram utilizadas armadilhas Sherman® e Tomahawk® distribuídas em quatro transectos paralelos, dois na borda do duto e dois no interior da floresta. Este desenho foi replicado em seis áreas de duas unidades de conservação da Bacia do Rio São João no estado do Rio de Janeiro (APA Rio São João/Mico Leão Dourado e REBIO União). Registramos as frequências de movimentos através da faixa de dutos e dentro dos fragmentos florestais por captura, marcação e recaptura. Para determinar se o duto é uma barreira aos movimentos da espécie, aplicamos um teste de χ2 comparando as frequências de movimentos através da faixa de dutos (travessias) com as frequências de movimentos entre transectos paralelos dentro da floresta. Para avaliar o efeito de borda, foi construído um modelo linear generalizado utilizando as capturas de cada indivíduo como variável dependente, a posição da captura (bordas ou interior) como variável independente e as áreas de captura e data de amostragem como variáveis de efeito aleatório, sendo este comparado com um modelo nulo que incluía apenas o intercepto. Por fim, para determinar se existiam diferenças nas distâncias de movimento entre machos e fêmeas e entre as áreas amostradas, as distâncias de movimentos entre capturas consecutivas de cada indivíduo foram comparadas por teste de Kruskal-Wallis (α=0.05). As travessias de dutos foram menos frequentes do que movimentos dentro da floresta (X2=29,491, p<0,001), indicando que o duto atua como uma barreira aos movimentos de M. paraguayana. Além disso, a seleção de modelos indicou um efeito de borda negativo sobre a espécie, com menor número de capturas na borda do que no interior. Os machos tenderam a percorrer distâncias maiores do que as fêmeas e a maioria dos cruzamentos entre fragmentos foram realizados por machos na estação reprodutiva. Este estudo demonstrou os impactos de uma estrutura linear sobre a conectividade florestal para M. paraguayana, e aponta a necessidade de avaliar o impacto sobre outras espécies de mamíferos de diferentes portes e hábitos, e a elaboração de medidas para mitigar esses impactos de forma a garantir maior conectividade da paisagem para esta e outras espécies florestais à longo prazo.

Financiamento:

Petrobras, Capes

Área

Conservação

Autores

Juan David Rojas Arias, Pablo Rodrigues Gonçalves, Leandro Drumond, Ian Moreira Souza, Carlos Ramon Ruiz Miranda, Caryne Braga