11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

ANALISE DE ISOTOPOS ESTAVEIS EM AMOSTRAS FECAIS

Resumo:

A análise de isótopos estáveis (AIE) é uma ferramenta capaz de gerar informações sobre aspectos tróficos, uso do habitat, padrões de forrageamento, entre outros. Dentre os tecidos utilizados, amostras fecais se destacam dada a facilidade de coleta, e por ser uma técnica minimamente invasiva. Entretanto, a heterogeneidade do conteúdo presentes nas amostras fecais, é preciso ter cuidado durante sua preparação para análise. Outros fatores de confusão são o meio de preservação e o estágio de degradação das amostras coletadas em ambiente natural sobre os valores isotópicos. Neste estudo, buscamos compreender se porções amostrais de uma pilha fecal são representativas de todo material, e qual a influência da estocagem em etanol absoluto e do tempo de degradação das fezes em ambiente florestal, sobre os valores isotópicos de carbono (δ13C) e nitrogênio (δ15N).
Utilizando amostras fecais de Mazama gouazoubira realizamos três experimentos. Para a amostragem da pilha fecal, uma porção de ~4mm³ foi retirada a partir de um mesmo pellet, de 3 pellets da mesma pilha e de pellets de pilhas fecais distintas. Calculamos o desvio padrão médio para as três variações, e realizamos o teste de Kruskal-Wallis para verificar as diferenças entre eles. Para testar o efeito da estocagem em etanol absoluto, cinco pilhas fecais distintas foram analisadas antes da estocagem e após 30, 90 e 270 dias por meio de regressões lineares. Para testar o efeito do tempo de degradação, utilizamos 15 pilhas fecais frescas, analisadas antes da exposição (t=0) e novamente após deposição em ambiente florestal, após 7, 14, 28, 56, 108 e 216 dias, por meio de regressões lineares.
Os valores isotópicos variaram significativamente entre pilhas fecais distintas, enquanto que porções de um mesmo pellet e de pellets distintos de uma mesma pilha fecal, não variaram significativamente (X²(2)=448,85; P<2,2 e-16). O armazenamento em etanol absoluto não provocou alteração significativa nos valores de δ13C (F(1, 23)=1,202; R²adj=0,008; P=0,284) e δ15N (F(1, 23)=3,066; R²adj=0,079; P=0,093). Para o tempo de degradação, os valores de δ13C não sofreram alterações significativas (F(1, 89)=0,792; P=0,375; R²adj= -0,002), enquanto δ15N apresentou aumento (F(1, 89)=17,38; P=7,072 e-05; R²adj=0,15), e para tanto, propomos um fator de correção dos valores (y=7.6+0.008x).
A variação não significativa para porções pertencentes a mesma pilha fecal pode ser explicada pela taxa de incorporação similar dos itens alimentares consumidos, resultando em valores isotópicos semelhantes para toda pilha fecal. O etanol absoluto tem influência sobre tecidos com presença de lipídeos, podendo aumentar os valores de δ13C, mas não é o caso das fezes de M. gouazoubira. O aumento nos valores de δ15N atribui-se à incorporação de biomassa microbiana à matéria em decomposição. O resultado é ocasionado pela discriminação contra 15N na transformação de N orgânico em NH 4+ e a perda de NH3.
Concluímos que, 1) porções de uma mesma pilha fecal, são representativas de todo material; 2) amostras fecais armazenadas em etanol absoluto não influenciam os valores isotópicos; 3) amostras em campo, no intervalo de exposição de até um ano, podem ser utilizadas para AIE, mas os valores de δ15N devem ser corrigidos.

Financiamento:

CNPq

Área

Ecologia

Autores

Isabela Pivetta Trentini, Márcio Leite de Oliveira, Marcelo Magioli, Francisco Grotta Neto, Pedro Henrique de Faria Peres, Marcelo Zacharias Moreira, Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz, José Maurício Barbanti Duarte