11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título do Simpósio:

Padrões biogeográficos em morcegos: estudando diferentes componentes e escalas da variação

Resumo Geral do Simpósio:

A distribuição das espécies de morcegos pode ser estruturada por diferentes características, sejam ambientais, como temperatura e pluviosidade, ou geográficas, como grandes rios Amazônicos. Entender os padrões e processos determinantes da distribuição das espécies de morcegos é importante, por exemplo, para aumentar a capacidade preditiva da dinâmica das populações em resposta a perturbações no ambiente. Ainda em relação a esses padrões e processos, os mesmos podem ser observados por uma lente dependente da escala (e.g. altitudinal e latitudinal) e nível taxonômico (e.g. família e espécie). Dentre os diferentes grupos de vertebrados, Chiroptera tem ganhado destaque em estudos que tentam entender padrões e processos biogeográficos ao longo do globo, pois são abundantes localmente, relativamente fáceis de serem registrados, são fortemente impactados por mudanças naturais ou antropogênicas no habitat e apresentam diferentes traços funcionais dentro de cada família, subfamília e gênero. Todavia, ainda há diferentes lacunas de conhecimento nos Neotrópicos, região altamente diversa em morcegos, onde poucos estudos têm proporcionado um maior entendimento sobre a diversidade e história evolutiva de diversos grupos de morcegos na Região Neotropical. Atualmente, entendemos principalmente que os padrões de diversidade das comunidades locais de morcegos resultam de eventos recentes e históricos que atuam em escalas espaciais e temporais distintas. Baseado nisso, nosso objetivo com este simpósio é apresentar resultados de estudos recentes com morcegos que abordam padrões e processos biogeográficos em diferentes escalas (da meso à macroescala), níveis taxonômicos (de espécies à comunidades) e usando diferentes variáveis (e.g. climáticas e/ou barreiras geográficas). Especificamente, nós vamos discutir padrões e processos biogeográficos envolvendo Chiroptera considerando toda a América Latina, a bacia Amazônica e a Floresta Atlântica. Além disso, vamos dar importância para a mesoescala quando estivermos falando sobre os morcegos da Mata Atlântica e da Amazônia. Por fim, vamos apresentar resultados sobre fatores históricos e ecológicos que envolvem a diversificação de Pteronotus spp. No final do simpósio, os congressistas conseguirão ter uma nova perspectiva sobre diferentes componentes e escalas da variação que influenciam o padrão biogeográfico de distribuição de espécies de morcegos na América Latina.

Nome do Palestrante 1 e Coordenador / Título da Fala / Resumo

Nome do Palestrante 1 e Coordenador: William Douglas Carvalho

Título da Fala: Elevação é mais importante do que clima, solo e barreiras geográficas para a β-diversidade taxonômica e funcional de morcegos ao longo da bacia Amazônica

Resumo: A distribuição das espécies pode ser estruturada por características ambientais, como o clima, e geográficas, como barreiras físicas. Essas características influenciam diretamente as adaptações das espécies, sua dispersão e a cladogênese, promovendo ainda a troca de espécies (turnover) e/ou a perda e ganho de espécies (aninhamento) entre diferentes regiões. Devido aos altos níveis de biodiversidade e à ampla gama de condições ambientais e geográficas, os Neotrópicos são frequentemente usados para estudar os mecanismos e direcionadores por trás da distribuição das espécies. Por exemplo, a dissimilaridade composicional espacial tem sido associada a variáveis geográficas, como grandes rios na Amazônia. Entretanto, espécies que apresentam maior mobilidade, como os morcegos, podem sofrer menos influência dessas barreiras geográficas, sendo mais influenciadas pelo clima e elevação do terreno, por exemplo. Portanto, tentar entender como diferentes fatores ambientais e históricos ao longo da bacia amazônica afetam os morcegos, um grupo altamente diverso, pode nos ajudar a entender diferentes mecanismos que influenciam a distribuição desses vertebrados voadores ao longo da Amazônia.

Nome do Palestrante 2 / Título da Fala / Resumo

Nome do Palestrante 2: Juliano A. Bogoni

Título da Fala: As pressões continentais que forjam as assembleias de morcegos Neotropicais

Resumo: Morcegos são cruciais para o funcionamento dos ecossistemas. Compreender e desagregar os efeitos causais da elevação–latitude na distribuição da biodiversidade é um desafio central na biogeografia. Investigando essas duas principais causas que governam a distribuição e diversidade de morcegos nos Neotrópicos, e quais traços de história-de-vida das espécies permitem resistir a essas duas pressões agindo em conjunto, vemos que a latitude determina o grupo de espécies que ocorre ao longo do domínio Neotropical, a elevação aplica um segundo filtro no pool previamente restrito pela latitude, co-determinando as assembleias montanas e o nível energético, tamanho da área de vida e tipos de hábitats ocupados determinam suas distribuições. Os Neotrópicos têm: a maior cadeia de montanha latitudinal do mundo: os imponentes andes; e a duas maiores florestas tropicais do mundo: uma em tamanho e outra em gradiente latitudinal; assim é importante saber onde a cadeia de montanhas está localizada latitudinalmente e se as espécies são bélicas o suficiente para suportar as duas pressões em sinergia.

Nome do Palestrante 3 / Título da Fala / Resumo

Nome do Palestrante 3: Ana Carolina Moreira Martins

Título da Fala: Comunidades de Morcegos moldadas pela heterogeneidade ambiental e disponibilidade de Água

Resumo: A "hipótese da heterogeneidade do habitat” assume que habitats estruturalmente complexos podem oferecer mais nichos e formas de explorar recursos, o que aumentaria a diversidade de espécies. Assim, o aumento na heterogeneidade da paisagem associada a grandes corpos d'água e florestas alagadas elevam a riqueza de espécies e abundância de morcegos. Este achado tem relevância para o planejamento de novas áreas protegidas na Amazônia, considerando as perdas de habitat recentes devido a seca, incêndios e do desmatamento na região.

Nome do Palestrante 4 / Título da Fala / Resumo

Nome do Palestrante 4: Ana Carolina Pavan

Título da Fala: Fatores históricos e ecológicos envolvidos na diversificação de morcegos do gênero Pteronotus.

Resumo: Estudos de variação geográfica têm proporcionado um maior entendimento sobre a diversidade e história evolutiva de diversos grupos de morcegos na Região Neotropical. Aliados a abordagens analíticas multidisciplinares, são o ponto de partida para investigações mais abrangentes, que buscam entender os processos biogeográficos atuantes na evolução da fauna. Nessa palestra, apresentarei trabalhos com o gênero Pteronotus (família Mormoopidae), um grupo amplamente distribuído e que passou por atualizações taxonômicas recentes, explorando possíveis fatores históricos/ecológicos envolvidos no processo de diversificação do grupo. Estimativas sobre o tempo e áreas ancestrais sugerem um papel central de rearranjos tectônicos da América Central durante o Mioceno no processo de diversificação inicial de Pteronotus, enquanto oscilações climáticas e variações no nível do mar seriam um fator comum aos eventos de cladogênese mais recentes. Um importante efeito da geografia no padrão de estruturação genética e morfológica é observado em várias linhagens, concordante com uma quebra geográfica norte x sul. Por fim, áreas de contato secundário e zonas de hibridização entre espécies-irmãs sugerem a existência de mecanismos ecológicos atuantes na diferenciação dessas espécies, como deslocamento de caráter, partição de recursos alimentares e de uso do habitat, que precisam ser investigados mais profundamente.

Nome do Palestrante 5 / Título da Fala / Resumo

Nome do Palestrante 5: Carolina Blefari Batista

Título da Fala: Tamanho é documento: escalas de análise e a percepção de padrões e processos biogeográficos em morcegos na Mata Atlântica

Resumo: Entender quais são os padrões e processos determinantes da distribuição das espécies de morcegos e descobrir em quais escalas atuam, é importante para aumentar a capacidade preditiva da dinâmica das populações em resposta a perturbações no ambiente. Quanto maior a escala de análise, mais facilmente se observa a influência da distância geográfica na distribuição das espécies, por exemplo. Por outro lado, análises em escalas regionais, principalmente pequenas regiões, podem superestimar a influência das variáveis climáticas locais na ocorrência das espécies, deixando de lado fatores geográficos. O problema não é escolher a escala correta, mas reconhecer que as mudanças ocorrem em muitas escalas, e que a real escala de efeito normalmente é desconhecida enquanto a pesquisa está em avanço, de forma que se faz importante considerar e comparar as respostas das espécies a fatores biogeográficos em múltiplas escalas. A Mata Atlântica é considerada um dos hostpots globais mais ameaçados e possui grande extensão latitudinal, abrigando dez diferentes ecorregiões que refletem um alto gradiente de diversidade de morcegos. Nesse sentido, o bioma da Mata Atlântica e a ordem Chiroptera podem ser um bom modelo para estudos de escalas biogeográficas e suas implicações para conservação das espécies.

Nome do Palestrante 6 / Título da Fala / Resumo

Nome do Palestrante 6: Paulo Estefano Dineli Bobrowiec

Título da Fala: O papel de fatores locais recentes e históricos de grande escala na distribuição de morcegos Amazônicos

Resumo: Os padrões de diversidade das comunidades locais resultam de eventos recentes e históricos que atuam em escalas espaciais e temporais distintas. As características do habitat, disponibilidade de recursos, interações entre espécies e requisitos de nicho são eventos locais que atuam no tempo mais recente, enquanto que o movimento de placas tectônicas, elevação de montanhas, variação climática e sistema de drenagem são processos históricos de grande escala que se desenvolveram ao longo de milhões de anos. A floresta Amazônica exibe considerável heterogeneidade ambiental e de fatores históricos que influenciam a distribuição das espécies. Contudo, nosso conhecimento da distribuição da biota amazônica e dos fatores que estruturam suas comunidades ainda é limitado. Para entender como rios, ecorregiões, clima, características ambientais locais e distância espacial se relacionam com os padrões de distribuição de espécies de morcegos, um grupo altamente diverso em espécies e características ecológicas, nós integramos dados de ocorrência e abundância coletados de unidades amostrais padronizadas na Amazônia brasileira.

Área

Biogeografia/Macroecologia

Autores

Juliano A. Bogoni, Carolina Blefari Batista, William Douglas Carvalho, Paulo Estefano Dineli Bobrowiec, Ana Carolina Moreira Martins, Ana Carolina Pavan