11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título do Simpósio:

NOVAS TECNOLOGIAS NO ESTUDO DE MAMIFEROS BRASILEIROS: DESAFIOS E SOLUÇOES

Resumo Geral do Simpósio:

A ciência é movida por descobertas e, em especial, por novas perguntas e questionamentos, sendo necessária a contínua busca por soluções e o constante aprimoramento de técnicas já existentes ou o desenvolvimento de tecnologias inovadoras que contribuam para a resolução de desafios, permitindo assim o rompimento de barreiras e o avanço do conhecimento. O presente simpósio objetiva apresentar e discutir novas tecnologias empregadas no estudo de mamíferos brasileiros, abordando: a caracterização de comunidades de morcegos em gradientes altitudinais empregando detectores de ultrassom; o desenvolvimento de técnicas para superação de desafios do armadilhamento fotográfico em dossel; a investigação da movimentação tridimensional atrelada a aspectos fisiológicos e comportamentais com o uso de acelerômetros; o monitoramento de populações utilizando algoritmos para diferenciação de indivíduos a partir de fotografias de pegadas; a captura de espécimes empregando um sistema de captura minimamente invasivo guiado por controle remoto; e a aplicação de ferramentas genômicas na definição de programas de conservação de mamíferos “in situ” e “ex situ”. Com isso, pretendemos evidenciar que a Mastozoologia no Brasil também se destaca pelo uso e desenvolvimento de tecnologias inovadoras que podem contribuir para o estudo de mamíferos não apenas em território nacional, mas também em outras partes do mundo.

Nome do Palestrante 1 e Coordenador / Título da Fala / Resumo

Dra Ana Carolina Srbek-Araujo

Equipamento remoto: nova tecnologia para captura de grandes felinos

Grandes carnívoros são espécies-chave para a conservação da biodiversidade e são especialmente afetados pela ação humana. O impacto das ações humanas sobre a ecologia espacial das espécies pode ser especialmente avaliado a partir do emprego de técnicas de rastreamento por rádio e GPS, o que tem aumentado nas últimas décadas. No entanto, para aplicação destas técnicas, é necessário capturar e imobilizar os animais, o que não é uma tarefa fácil e que impõe riscos tanto para a equipe técnica quanto para os animais. Os métodos tradicionalmente usados na captura de grandes felinos são cães treinados, armadilhas tipo caixa e armadilhas tipo laço, os quais possuem suas próprias desvantagens e limitações. Com o objetivo de apresentar uma nova alternativa a esses métodos, vamos relatar o primeiro caso de captura de um grande felino, uma onça-pintada (Panthera onca), utilizando um sistema de captura minimamente invasivo, que demanda investimento de esforço relativamente baixo em campo e que oferece condições mais seguras para o animal e para a equipe. O sistema, denominado equipamento remoto de captura, consiste basicamente em uma pistola anestésica guiada por controle remoto, o qual é o orientado a partir da imagem fornecida, em tempo real, por uma câmera de vídeo, e que permite a captura em condições de baixo estresse para o animal. Serão discutidas vantagens e desvantagens desse novo método, em comparação com os métodos tradicionais de captura. O equipamento remoto havia sido usado apenas na captura de linces-ibéricos, tendo sido pela primeira vez aplicado com sucesso em uma espécie de felino de grande porte e na região neotropical (Mata Atlântica).

Nome do Palestrante 2 / Título da Fala / Resumo

Me Carina Maria Vela-Ulian

Bioacústica e morcegos em gradientes altitudinais

Redes de neblina são o método mais utilizado em estudos com morcegos, porém, sua eficiência reduz drasticamente quando os pontos de estudo estão localizados em áreas de altitude e/ou de difícil acesso. Como consequência, ressalta-se que poucos estudos foram realizados com morcegos em regiões de altitude acima de 1.000 metros no Brasil. Neste contexto, as amostragens de bioacústica se revelam uma alternativa para suprir a limitação das amostragens com redes, ressaltando que os detectores de ultrassom podem ser eficientemente utilizados em áreas com vegetação herbácea, grandes elevações, terrenos em declividade ou pouco acessíveis, além de possibilitar o registro de espécies que dificilmente seriam amostradas com redes devido a limitações metodológicas e aspectos comportamentais, como os morcegos insetívoros aéreos, por exemplo. Assim, nessa apresentação vamos discutir a resposta da bioacústica, aliada ao uso convencional de redes de neblina, e como os detectores de ultrassom podem contribuir para a ampliação do registro de espécies quando comparados aos resultados obtidos apenas com técnicas tradicionais de amostragem, contribuindo para a caracterização das comunidades de morcegos em ambientes de difícil acesso, como os gradientes altitudinais.

Nome do Palestrante 3 / Título da Fala / Resumo

Dra Mariane da Cruz Kaizer

O potencial das armadilhas fotográficas arbóreas para o monitoramento de mamíferos

A armadilha fotográfica arbórea é um método emergente, com grande potencial de melhorar a nossa compreensão sobre a comunidade de mamíferos arbóreos, e eficiente para responder uma variedade de questões ecológicas em diferentes tipos de ecossistemas. No entanto, apesar do grande conhecimento e aplicabilidade das cameras traps no ambiente terrestre, o seu uso no ambiente arbóreo impõe alguns desafios. Discutiremos a eficiência de detecção das armadilhas fotográficas no dossel florestal e demonstraremos seu potencial no inventariamento e monitoramento de mamíferos arbóreos, incluindo espécies raras e ameaçadas de extinção, como o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), o sagui-da-serra-claro (Callithrix flaviceps) e o ouriço-preto (Chaetomys subspinosus). Também discutiremos os pontos fortes e fracos desse método para avançar na pesquisa e conservação de mamíferos. Dentre os desafios mais comuns das armadilhas fotográficas arbóreas estão o posicionamento do equipamento e o acesso ao local de instalação no ambiente arbóreo. Tais desafios vêm sendo superados com o constante desenvolvimento desta tecnologia, aliado ao bom entendimento do equipamento, à eliminação de potenciais fontes de interferência na zona de detecção das cameras traps e à utilização de equipamentos apropriadas e capacitação dos pesquisadores. As armadilhas fotográficas arbóreas têm grande potencial de serem aplicadas nos diferentes biomas brasileiros e em uma grande variedade de habitats, incluindo no estudo de mamíferos em áreas urbanas e/ou impactadas pelas ações do homem.

Nome do Palestrante 4 / Título da Fala / Resumo

Me Gabriela Cabral Rezende

O uso de acelerômetros em estudos de movimento e gasto energético

O uso de dispositivos de coleta e armazenamento de dados (dataloggers) acoplados diretamente nos animais tem se desenvolvido rapidamente e alcançando tamanhos reduzidos que permitem sua utilização em animais de porte cada vez menor para o monitoramento remoto de indivíduos de vida livre. Junto aos GPS, o uso de acelerômetros tem permitido o monitoramento do movimento numa escala muito mais refinada (infra-segundo) e possibilitado a reconstrução da movimentação tridimensional e a identificação de comportamentos a partir de dados coletados remotamente. Métricas derivadas dos dados dos acelerômetros também permitem estimativas de gasto energético em animais de vida livre. Nessa apresentação trarei alguns exemplos de estudos realizados com mamíferos, em especial o mico-leão-preto, primata de pequeno porte, utilizando acelerômetros para a caracterização de movimentos em escala fina, estimativa de gasto energético e identificação de comportamentos. Ao final, apresentarei as potencialidades, os desafios e as limitações do uso deste equipamento em mamíferos.

Nome do Palestrante 5 / Título da Fala / Resumo

Dra Danielle de Oliveira Moreira

Tecnologia de identificação de pegadas para o monitoramento de espécies ameaçadas ou icônicas

Espécies ameaçadas são frequentemente monitoradas usando abordagens invasivas e caras, como telemetria (e.g., rádio-colar), marcação e observação aproximada por vias terrestres ou aéreas. A instalação de dispositivos de telemetria é muito cara e, portanto, apenas uma pequena proporção da população pode ser monitorada por um curto período de tempo. Além disso, essas abordagens envolvem perturbação ou manipulação física direta do animal que podem trazer efeitos negativos às espécies, que vão desde a diminuição da fertilidade até a redução do peso corporal e comportamento variado, como mostrado por alguns estudos. Com os problemas de recursos financeiros escassos para a ciência no Brasil, é necessária a busca de tecnologias alternativas e apropriadas, porém baratas, para os estudos ecológicos e de conservação de mamíferos. Uma das tecnologias é o FIT (Footprint Identification Technology), um algoritmo que nos permite diferenciar indivíduos de grandes mamíferos por meio de fotografias de pegadas e, até mesmo, a classe etária e o sexo. Esse método foi inspirado na habilidade de observação dos rastreadores locais do Zimbabwe quando os pesquisadores idealizadores da técnica estavam estudando rinocerontes-negros. Aqui no Brasil, o grupo de pesquisa do Instituto Pró-Tapir demonstrou a aplicação prática do FIT para o censo de antas (Tapirus terrestris), que é uma espécie ameaçada, em estudo realizado no norte do Espírito Santo. O FIT oferece diferentes benefícios para a conservação das espécies, pois, sendo um método não invasivo, pode ser usado para censos ou monitoramentos, dando um feedback rápido aos pesquisadores ou gestores de unidades de conservação.

Nome do Palestrante 6 / Título da Fala / Resumo

Dr Eduardo Eizirik

Genômica aplicada à conservação 'in situ' e 'ex situ' de mamíferos silvestres

A apresentação descreverá como dados genômicos (especialmente genomas completos) podem ser aplicados para embasar programas de conservação de mamíferos, tanto no que tange a populações naturais como a populações manejadas “ex situ”. Serão abordadas questões práticas com respeito a métodos atuais de geração e análise de dados genômicos, e também incluídos exemplos de sua aplicação com foco em diferentes espécies de mamíferos.

Área

Conservação

Autores

Ana Carolina Srbek-Araujo, Carina Maria Vela-Ulian, Mariane da Cruz Kaizer, Gabriela Cabral Rezende , Danielle de Oliveira Moreira, Eduardo Eizirik