11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título do Simpósio:

MORCEGOS NO ESPAÇO E NO TEMPO: O OLHAR DAS CIENTISTAS

Resumo Geral do Simpósio:

A compreensão de padrões e processos da diversidade no espaço e no tempo reunificou macroecologia e macroevolução, considerando os processos eco-evolutivos em contexto espacialmente explícito. Quais processos e padrões moldam a diversidade de morcegos no Neotrópico, considerando atributos como morfologia, ecologia, acústica e filogenia? Serão apresentados trabalhos liderados por mulheres em diferentes fases da sua carreira acadêmica, dada a sua subrepresentação nessas subdisciplinas STEM.

Nome do Palestrante 1 e Coordenador / Título da Fala / Resumo

Maria João Ramos Pereira
Dinâmicas em comunidades de morcegos: atingir, resistir e coexistir
A forma como compreendemos as comunidades biológicas é um instantâneo de dinâmicas eco-evolutivas complexas agindo sobre espécies co-ocorrentes. Mas fatores históricos, pressões ambientais, mecanismos de coexistência e, porque não, o acaso, moldam esses padrões de diversidade. Para que as espécies de morcegos existam – e persistam – nas comunidades é crucial chegar, ver e vencer! Ou, por outras palavras, é necessário atingir um novo ambiente, o que pode ser limitado pela capacidade de dispersão, possuir ou desenvolver inovações-chave que permitam ultrapassar os filtros ambientais presentes nesse novo ambiente, e coexistir com quem eventualmente chegou antes ou chegará depois! Aqui, iremos olhar para o papel desempenhado pela evolução de nicho e limitação de dispersão na distribuição da diversidade de Phyllostomidae, entender como o ambiente e a filogenia influenciam a composição funcional de morcegos das Américas, e se efeitos de prioridade evolutivos explicam os padrões de diversidade e diversificação de Vespertilionidae neotropicais.

Nome do Palestrante 2 / Título da Fala / Resumo

Valéria da Cunha Tavares
Mais do mesmo? Como variam a riqueza e composição dos morcegos amazônicos ao longo do bioma e o que aprendemos sobre os morcegos da Amazônia brasileira na última década
Morcegos são altamente diversos, taxonômica e funcionalmente, contribuindo com serviços ecossistêmicos essenciais e, na região neotropical, o bioma Amazônico se destaca pela extraordinária riqueza. Devido aos efeitos combinados da conversão de habitats e de mudanças climáticas, os morcegos estão sob variados graus de pressões e ameaças que precisam ser melhor conhecidos. Um passo inicial, nesse contexto, é o teste de padrões de composição de morcegos ao longo de unidades previamente reconhecidas ou sugeridas como distintas, biogeograficamente. Um segundo movimento importante é entender as lacunas de conhecimento sobre os morcegos, de forma ampla, para discernir sobre as que incidem na compreensão desses padrões e nos vários aspectos relativos à conservação dos morcegos. Nós avaliamos a variação da riqueza e composição de morcegos ao longo de toda a Amazônia e testamos dissimilaridades levando em conta províncias biogeográficas e subregiões e, com foco na Amazônia brasileira, compilamos os avanços no conhecimento sobre morcegos ao longo dos últimos dez anos. Para a análise de toda a Amazônia, incluímos um total de 3771 registros de 104 localidades, os quais revisamos à luz da taxonomia atual. Riqueza e composição variaram entre áreas de endemismo, a composição foi menos dissimilar com relação às províncias biogeográficas e foi mais dissimilar quando consideradas subregiões amazônicas anteriormente propostas para morcegos. Os resultados são limitados pela cobertura heterogênea em termos de amostragem e em termos de validação de dados. A partir de uma lista de 608 artigos recuperados por nossa busca bibliográfica inicial, filtramos 117; o número de publicações aumentou no início de 2010 e alcançou um pico em 2014-2015. A Amazônia brasileira tem, no presente momento, o registro de 114 espécies de morcegos e 63 gêneros, distribuídos em nove famílias, sendo 34 endêmicas, incluindo novas ocorrências, espécies recentemente descritas, antigas subespécies agora elevadas a espécies e excluindo outras espécies anteriormente consideradas endêmicas que foram registradas em outros biomas ou eram registros errôneos. Revisões sistemáticas e publicações de novos registros baseadas no estudo de vouchers, estudos comparativos em formações diversas do bioma (e.g. campinas, campinaranas, várzea, terra firme, igapós, cangas) e estudos considerando impactos e dados bioacústicos grandemente contribuíram para o refinamento do conhecimento sobre os morcegos amazônicos do Brasil. Há ainda um conjunto de dados significativo sobre predação, parasistimo e zoonoses. Há muitas lacunas observáveis a partir dessa revisão e, de forma geral, dados sobre Biologia e História Natural são escassos, a taxonomia está timidamente representada e pouco se sabe sobre os processos ecossistêmicos, nos quais estão envolvidos os morcegos da Amazônia brasileira e, consequentemente, os serviços.

Nome do Palestrante 3 / Título da Fala / Resumo

Ludmilla M S Aguiar
Macroecologia aplicada em microquirópteros
A Macroecologia é uma área da ciência voltada para a elaboração de sínteses sobre os padrões e processos a sistemas ecológicos em larga escala. A abordagem ajuda na compreensão dos fatores que determinam a distribuição dos organismos e o papel que desempenham localmente em uma comunidade. Apresento aqui dois exemplos de estudos que avaliaram as lacunas de conhecimento sobre os morcegos no Brasil, e como as alterações ambientais podem causar impactos expressivos nos serviços ecossistêmicos providos por eles. Os estudos também representam exemplos de como variáveis ambientais influenciam a distribuição das espécies. Tais avaliações são importantes, pois o Brasil é um dos países com a maior diversidade de morcegos. No primeiro caso, foi feita uma extensa revisão dos registros dos morcegos no Brasil e os pontos de ocorrência foram caracterizados em função de variáveis bioclimáticas. Com o uso da abordagem de complementaridade ambiental, foram mapeadas as regiões ambientalmente dissimilares das localidades conhecidas onde potencialmente registros inusitados ou mesmo a ocorrência de novas espécies poderiam ser feitos. Para testar essa ideia, foram selecionados os registros de 13 espécies descritas a partir de 2010 e as características ambientais das ocorrências das novas espécies foram comparadas com as características ambientais das ocorrências das espécies descritas até então. O resultado mostrou uma diferença significativa entre as regiões, o que sugere a validade da abordagem. No segundo exemplo, foram modeladas as distribuições potenciais de 113 espécies de morcegos e elas foram agrupadas em 10 classes que combinaram o tamanho (pequenas, médias e grandes) e guildas tróficas (insetívoras, nectarívoras, frugívoras e carnívoras). Um índice de serviço ecossistêmico foi calculado a partir da área ocupada por cada espécie de diferentes guildas tróficas em células de 0,5x-0,5 graus geográficos, antes e depois dos desmatamentos observados até 2020. Os resultados indicaram que a perda dos serviços ecossistêmicos providos pelos morcegos para o país como um todo seguiu uma sequência de morcegos insetívoros, cujo serviço pode ser associado com controle de pragas na agricultura, depois em espécies frugívoras, cujo serviço pode ser associado com a dispersão de sementes, depois em espécies carnívoras, cujo serviço pode ser associado com controle de vertebrados, e depois com espécies nectarívoras, cujo serviço pode ser associado com a polinização em áreas nativas e cultivos. As respostas variaram entre os biomas, mas a Mata Atlântica e o Cerrado foram os biomas que mais perderam serviços ecossistêmicos providos pelos morcegos por causa dos desmatamentos.

Nome do Palestrante 4 / Título da Fala / Resumo

Adriana Arias-Aguilar
Cenários do som: fatores eco-evolutivos que moldam a ecolocalização em morcegos.
Os chamados de ecolocalização emitidos por morcegos são afetados por fatores ecológicos e evolutivos. Assim, tanto as condições ambientais atuais como a história evolutiva interagem para promover diferenças acústicas nas populações de morcegos. Aqui, veremos como distintos cenários acústicos, ou seja, ambientes com condições climáticas diferentes, variação no tamanho corporal e filogenia afetam a propagação do som resultando em variação geográfica acústica em morcegos dos gêneros Noctilio e Pteronotus.

Nome do Palestrante 5 / Título da Fala / Resumo

Luana Biz
Interações entre morcegos e suas moscas ectoparasitas ao longo da Região Neotropical
Sabemos que interações ecológicas ocorrem em toda a biodiversidade, sendo cruciais para o equilíbrio dos ecossistemas. Essas interações se modulam ao longo de gradientes ambientais, possivelmente seguindo um dos padrões mais aceitos na ecologia, o gradiente de diversidade latitudinal. Esse padrão é consideravelmente mais visível em escalas maiores, do que em escalas menores. Buscamos observar essa dinâmica entre espécies com um olhar mais amplo e entender como determinadas associações se moldam ao longo do espaço, principalmente quando essas interações são altamente especializadas, como é o caso dos morcegos e suas moscas ectoparasitas. Morcegos e suas “bat flies”, além da alta exclusividade e especificidade, apresentam uma diversidade de características ecológicas, biológicas e evolutivas que podem delinear, juntamente com as variáveis ambientais, o arquétipo desta relação. Desta forma, o primeiro passo é observar se existe variação na estrutura das redes de interação, e se essa variação se estende para os padrões de infestação ao longo da Região Neotropical.

Nome do Palestrante 6 / Título da Fala / Resumo

Cíntia da Costa
Desvendando os padrões de ocupação e diversidade funcional de morcegos em uma ecorregião altamente modificada
A conversão de habitats abertos em monoculturas florestais ou sua degradação pelo uso intensivo para a produção agropecuária afeta a diversidade e a ocupação por diferentes grupos animais. O Pampa, localizado na ecorregião da Savana Uruguaia, é o menos protegido e o segundo menos amostrado para morcegos de todos os domínios brasileiros, e há uma lacuna de conhecimento sobre morcegos insetívoros aéreos nesses campos sul-americanos. Aqui, apresentaremos os resultados do primeiro monitoramento acústico abrangente de morcegos insetívoros aéreos no Pampa brasileiro. Investigamos como a estrutura da paisagem e o microclima influenciam a probabilidade de ocupação e a detecção dos morcegos em diferentes escalas espaciais e utilizamos traços funcionais das espécies para avaliar a estrutura das comunidades e suas respostas à conectividade da paisagem pampeana. Nossos resultados permitiram reduzir o déficit Wallaceano e projetar espacialmente as probabilidades de ocupação das espécies de morcegos molossídeos e vespertilionídeos na ecorregião da Savana Uruguaia.

Área

Biogeografia/Macroecologia

Autores

Valéria da Cunha Tavares, Luana Biz, Ludmila M S Aguiar, Cíntia Fernanda da Costa, Adriana Arias-Aguilar, Maria João Ramos Pereira